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A Força do Mystic Metal


Entrevista: Júlio César Bocáter. Fotos: divulgação
Todos sabem o que aconteceu no ano 2000, com a separação do Angra. Desde então, as pessoas mais inteligentes e fãs de boa música, perceberam que estavam ganhando duas grandes bandas. O Angra, com a dupla remanescente Kiko e Rafael, músicos de inegável talento, principalmente o segundo, que é um grande compositor, recrutou as pessoas certas e a altura dos que saíram. E o trio que saiu, André Matos (V), Luis Mariutti (B) e Ricardo Confessori (D) se juntaram ao irmão de Luis, Hugo (G) e este mostrou ser a grande revelação e necessário para a banda crescer. A banda gravou em quase dois anos o Ritual e neste tempo deram várias entrevistas, fizeram grandes shows no Brasil e França e André, até que enfim, pôs o projeto Virgo de Rock Pop com Sascha Paeth em ação. E este tempo fez com que a banda assinasse contratos com vários selos lá fora, como a poderosa JVC no Japão e aqui no Brasil com a Universal, garantindo distribuição nacional e em todas as lojas. Mais uma vez, conversei com André Matos e sempre as entrevistas são reveladoras e inteligentes, além de sua simpatia extrema. Deleite-se! 

RU – André, primeiro quero dar os parabéns pelo disco, deve ter surpreendido a todos.

André Matos – Bem, nós mesmos nos surpreendemos com o resultado final. A capa, a temática, as letras e o lado musical, tudo sem encaixa. O nosso produtor Sascha disse que Ritual foi o melhor trabalho que ele já fez. 

 RU – Afinal, o que o público poderia esperar de uma banda que tem três ex-integrantes de outra banda? Um som ao menos parecido com sua ex-banda, mas isso não acontece. Apesar de notar algumas influências e até de bandas que antes não podíamos perceber, Ritual não lembra nada diretamente que outra banda já tenha feito.
André Matos – A idéia era essa mesmo, sermos criativos e fazermos algo de novo no mercado do Metal atual, que está saturado. Estava na hora de alguém fazer algo diferente. A cena está muito repetitiva. A idéia era ousar e tentar fazer algo diferente, recriando nossas influências. Tem bandas que fazem sempre o mesmo disco. A única banda que pode fazer isso é o AC/DC, só eles têm esse direito.   

RU – A faixa Ancient Winds é a abertura é não é apenas uma introdução, mas uma música mesmo.
André Matos – Sim, e ela será a abertura de nossos shows também. Quisemos fazer isso para que o ouvinte entre no clima do shamanismo e que tivesse contexto com o disco, diferente da maioria das bandas que fazem uma intro instrumental de um minuto de um negócio inexpressivo, com nada a ver com nada. E tínhamos que fazer isso pensando nos shows também, para mantermos o mesmo nível que tínhamos no Angra, onde usávamos trilha de filmes, como a do Armageddon.

 
RU – Seria como um ritual mesmo, em que qualquer religião, seita ou seja lá o que for, quando a pessoa vai meditar, orar ou evocar alguma força, precisa ter uma preparação antes, para relaxar o corpo e baixar a respiração e os batimentos cardíacos. E no disco, esta preparação seria a faixa de abertura Ancient Winds.
André Matos – Exatamente. Em todos rituais religiosos e em qualquer época, sempre são acompanhados de música. Seja coral, orquestra. E isso serve também para os shows, vai ser um negócio para arrebentar.  

RU – Here I Am é uma das faixas mais pesadas do disco e tem um lance meio gótico e lírico com vocal feminino no meio, que nos remete à bandas como Tristania, Nightwish e Edenbridge.
André Matos –
Sim, a idéia é essa mesmo, colocar uma cantora lírica para fazer o clima dessa que é a primeira faixa depois da introdução, que me inspirei no disco do Freddy Mercury que ele fez com uma soprano. É o lance de escutar músicas fora do Heavy Metal. Eu respeito bastante o Nightwish e o Edenbridge, mas não é o que eu escuto. Eu quero escutar coisas diferentes e absorver coisas diferentes.

RU – Já Distant Thunder, por seu começo ser uma espécie de auto-introdução (com a guitarra falando alto) da mesma música, me lembrou Hellion/The Electric Eye do Judas Priest. Já que a Hellion é a introdução da Electric Eye e as duas nunca se separam, sempre são tocadas juntas. E esta é uma das minhas preferidas do Judas. O que também é algo diferente, pois na sua época no Angra, sempre apareciam mais influências de Iron Maiden e Helloween, apesar de vocês tocarem por muito tempo Painkiller.  

André Matos – Concordo, acho que tem um pouco de Manowar ali também. E o Judas é um dos pilares com Heavy Metal, junto com o Iron Maiden e o Manowar.

RU – For Tomorrow e Time Will Come estão na cabeça de todos, pois foram mostradas em todos os shows e em demos. No Ritual, elas aparecem mas um pouco diferentes, estão mais poderosas e vigorosas e ficaram ainda melhores. Como surgiu a idéia de mexer nelas?

André Matos – Essa demora entre a formação da banda e o disco sair foi bom por um lado, pois foi o tempo certo para acharmos a fórmula certa para as músicas. Pudemos formar o estilo da banda. E pudemos trabalhar melhor nestas duas músicas.

RU – Over Your Head é a mais Holy Land de todas, com lances de música árabe e World Music. Só que mesmo assim ela ficou pesada, diferente de outros artistas como Paul Simon, que abandonam de vez o Rock e fazem uma coisa chata. Como você trabalha para que isso não aconteça com sua música? 

André Matos – Concordo, e não gosto do Paul Simon. Eu gosto de World Music regional mesmo. Ele já é totalmente comercial. Esse lance de vir para o Brasil e apenas pegar batucada não sintetiza a música brasileira. Eu gosto muito de um cantor iraniano chamado Nusrat Fateh Ali Khan. A mistura de World Music com Heavy Metal deve ser feita com cuidado. Você tem que saber dosar na medida certa e é isso que gostei do disco: acertamos a mão para fazer a receita na medida certa com todos ingredientes na medida certa.

RU – E a trinca que encerra o disco, Blind Spell, Ritual e Pride é de matar!

André Matos – Sim, mas você tem que analisar com cuidado estas últimas, principalmente a Ritual. Preste atenção nela.

RU – Falando sobre a banda, vocês três mais uma vez se superaram. A performance de cada um é excelente, tanto você que canta ainda melhor, o Ricardo que abusou de sua técnica e talento na bateria e o Luis, já que o baixo hoje está um pouco mais evidente. Mas quem me assustou mesmo foi o Hugo! Ele fez todas as guitarras sozinho, fez riffs pesados e oitentistas, solos técnicos mas com muito feeling, e me parece que a guitarra é o instrumento principal. Ela está na cara e substitui em muitas partes o teclado.
André Matos – Isso é verdade. Todos demos o melhor da gente, mas o Hugo é o responsável pelo resultado do disco, pois foi a pessoa certa para a banda. É aquela história. Quando procurávamos por um guitarrista, pensamos em alguém que fosse bom, mas que não fosse muito conhecido, pois se tivéssemos escolhido um cara famoso, poderíamos ter problema da pessoa querer se sobressair e querer tocar em outro lugar. 

RU – Veja a confusão no Savatage, pois o Al Pitrelli saiu para ir para o Megadeth e a banda recrutou o Jack Frost do Metalium e Saven Witches. Aí o Megadeth acabou e chamaram de volta o Al Pitrelli e o Jack Frost ficou na mão. Mas o Pitrelli já saiu de novo, pois sempre é muito requisitado.

André Matos – Por isso acho que o músico é um investimento. Você tem que apostar num cara que você acha que vai ser bom, e não num cara que já é bom, pois isso vai te dar muita dor de cabeça. De repente o cara pode ter um caráter insuportável e no começo frisamos que o mais importante era ter harmonia na banda. Se a gente não tiver numa boa com a gente, não vai rolar nada. E o Hugo ainda tem muito a crescer. Ele é diferente da maioria por aí, ele não está interessado em fazer workshop (risos), ele não vai na linha do Malmsteen, até porque ele detesta Malmsteen. Ele tem três guitarristas favoritos: o Rhandy Roads, o James Hetfield fazendo base e o guitarrista do Marilion. Ele gosta muito desta banda.   

RU – Há muitos boatos de que o Angra e o Shaman são rivais, o que seria até compreensível. Mas o Luis e o Hugo são amigos ao menos dos integrantes novos do Angra, o Aquiles e o Felipe e isso é saudável.
André Matos – Não é bem assim. Que eu saiba, eles não tem muito contato, mas também não temos nada contra. Mas não chegam a ser amigos.

RU – Você ouviu Rebirth do Angra?
André Matos – Sinceramente ouvi sim, e acho um bom disco. Minha opinião se limita a isso.  RU – Como surgiu o contrato com a Universal? Vocês não iriam assinar com a Century Media?
André Matos – A princípio íamos assinar com a Century Media sim. Acontece que a CM Brasil é filial da CM internacional. É impossível assinar um contrato só com a CM Brasil. E já havíamos lançado o disco no Japão com a JVC e na França com a NTS e não daria para lançar no resto do mundo. E a CM de fora não deixou assinar só com o Brasil. Mandamos material para várias gravadoras e surgiu a Universal. E eles estão entusiasmados, depois do sucesso do Nightwish, cujo disco novo saiu aqui por eles. E as gravadoras estão sofrendo muito com pirataria e o Metal não sofre tanto com isso.

RU – E conversando com eles, me disseram que estão assustados com o que vendeu o Nightwish sem promoção alguma e era uma coisa já pronta com um público feito. E pelo menos eles não vão ter que ficar se explicando nem dando satisfação para a imprensa, para a justiça e para a polícia, como vem acontecendo com os pagodeiros. (risos)
André Matos – (risos) E quem me falou isso também foi o pessoal do Via Funchal. Eles adoram o pessoal do Metal, falam que são bem comportados. Eles disseram que os pagodeiros quando vão lá e quebram tudo!

RU – E há uma possibilidade da Universal lançar o disco em outros países?

André Matos – Sim, eles vão tentar nos EUA, resto da Europa, Austrália, México e América Latina.

SHAMAN
Ritual

Universal – nac.
O debut tão esperado que poderia concorrer com o ótimo Rebirth do Angra saiu. E não poderia ser em melhor estilo! Pela Universal, a banda terá seu disco em todas as lojas de CD (não só nas especializadas) e em todo o Brasil (saindo do eixo São Paulo/Rio/Minas/Rio Grade do Sul), assim como o do Angra, que saiu pela mesma Paradoxx e ganhou disco de ouro pela distribuição, além de ser muito bom também. Ancient Winds é uma introdução em forma de música que abrirá os shows da banda em grande estilo. Here I Am é pesada e tem lances de Ópera no meio, ao estilo Nightwish/Tristania. Distant Thunder tem o estilo poderoso de Hellion/The Electric Eye do Judas Priest e For Tomorrow e Time Will Come reaparecem vitaminadas e mais portentosas que nas versões demo. Over Your Head  tem aquele lance de World Music presente desde Holy Land, com apetrechos de música árabe e fala sobre os atentados do World Trade Center, narrando o suposto ritual feito pelos suicidas e vendo o outro lado da história em vez de ficar condenando e babando ovo para os americanos. Fairy Tale é a bela balada, épica, clássica, orquestrada, numa das melhores composições de André Matos. E a trinca que encerra é de matar! Blind Spell é um Heavy gostoso, quase Hard, Ritual pela sua temática e música, não parece mas, tem a aura dos discos do Dio, narrando um verdadeiro ritual, evocando os deuses da natureza e o som é um clássico do Metal! Pride encerra com estilo um Power Speed Metal junto com Tobias Sammet (Edguy/Avantasia). Excelente! JCB – 9,0