AGENDA
BANDAS
ENTREVISTAS
CDS
DVDS
DEMOS
LIVROS
SHOWS
MATÉRIAS
PROMOÇÕES
LINKS
CONTATOS


A Força de uma Nova Era!

Entrevista e fotos: Júlio César Bocáter.
Todos sabem o inferno astral que o Angra viveu desde 98, com o não tão bem sucedido Fireworks. Depois de quase de dois anos de silêncio, André Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori anunciam a sua saída e logo depois viriam a formar o Shaman. Então, para os dois guitarristas, Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt  que sobraram, restava duas alternativas: acabar com a banda ou recrutar novos integrantes. A pedido de fãs e de toda a estrutura forte e sólida envolvendo o nome Angra, felizmente a banda resolve continuar. Felizmente também, escolheu as pessoas certas: Edu Falaschi (Ex-Symbols e Mitrium - V), Felipe Camargo (ex-Karma e Dianno - B) e Aquiles Priester (Hangar e Dianno - D). E, melhor ainda, lançam já este ano seu CD por um selo de grande distribuição nacional, a Paradoxx, além dos mesmos na Europa. E Rebirth, que significa renascimento, é talvez o melhor álbum da banda. Pesado, direto, agressivo, variado e contagiante, mas ainda rápido, melódico, bem trabalhado e virtuoso, na melhor produção que a banda já teve nas mãos de Dennis Ward (Pink Cream 69). Confira esta exclusiva com Kiko tudo sobre o novo disco, além de toques importantes sobre nossa cena, mostrando que os quase dez anos de banda renderam não só experiência mas sabedoria à Kiko. 

RU – Por que o CD saiu pela Paradoxx mesmo? No ano passado, o Rafael me disse que isto seria improvável, pois haviam alguns problemas pendentes com eles.
Kiko Loureiro -  Realmente é isso, mas foi conveniente para a banda, pois no Brasil é difícil você conseguir contrato com alguma gravadora. A Paradoxx é maior que os selos especializados em Metal, tem uma melhor distribuição pois em qualquer loja você acha. Mas as majors, tem preconceito com o Heavy Metal. Pois por vendagem, nós vendemos muito mais que muitas bandas Pop’s que não vingam.

RU – Rebirth possui elementos que já existiam no Angra, mas que agora foram mais explorados, como o Hard e o Prog. E ele tem uma sonoridade próxima ao Symphony-X. Isso foi uma influência trazida pelos novos integrantes ou uma evolução da banda Angra?
Kiko Loureiro – É difícil falar, pois essa é a sua opinião. Realmente está mais Progressivo, mas uma coisa minha e do Rafael e um pouco dos novos integrantes, pois o Felipe gosta muito de Symphony-X. Mas antes deles entrarem já tínhamos esse lance, pois hoje o pessoal chama de Progressivo tudo o que for diferente do Metal, como alguns teclados ou umas quebradeiras.

RU – Tanto que o que se chama de Progressivo hoje é diferente do que era nos anos 70. Todos que um dia já foram do Angra citam o Holy Land como melhor disco da banda. E na minha opinião, acho que o Rebirth tem tudo para superar o Holy Land, apesar de não ser radical nas raízes como foi o segundo disco.
Kiko Loureiro – Conforme fomos fazendo as músicas naquela confusão que não sabíamos se a banda ia continuar e escolhendo os novos integrantes, percebemos que as músicas saiam com a cara do Angra.  Então não fugimos do contexto original do Angra, que ‘sempre ter algo de música brasileira. No Angels Cry apenas usamos pouco, pois era difícil para a gente colocar a coisa de forma certa, e estávamos na Alemanha e o produtor não manjava nada. Já no Holy Land  já sabíamos o que queríamos e hoje temos poder para exigir isso dos produtores.

RU – Como vocês chegaram no Dennis Ward?
Kiko Loureiro -  A gente pensou em outros nomes, inclusive nosso primeiro produtor e o Denis foi indicado por uma de nossas gravadoras na Europa, na França. Ouvi o trabalho de lê e gostei e ele não é um produtor muito conhecido, ele apenas produz a banda dele e mais algumas. Provavelmente, trabalharemos com ele outras vezes.

RU – Quando uma banda está crescendo, ela costuma arriscar fazer um trabalho com um produtor mais renomado e o resultado não corresponde muitas vezes. Hoje você se arrepende de ter trabalhado com o Chris Tsagaroindes no Fireworks?
Kiko Loureiro -  Não. As músicas que saem no CD são reflexo do que a banda quer fazer e do momento que ela está passando. Na época a banda queria fazer outra coisa, já tínhamos feito dois discos com produtor alemão e na época estava tendo aquele boom de bandas melódicas, como Rhapsody e queríamos sair deste mar de bandas. E o Angra já tinha atritos, não tínhamos uma unidade. A banda não tinha uma direção musical e o Chris não tem culpa, pois ele não organiza a banda. Ele trabalhava com bandas já renomadas, tipo Judas e Ozzy que já chegavam prontas. Não podemos culpar ele.

RU – É verdade que o Fabio Lione foi convidado para entrar no Angra?
Kiko Loureiro - Antes dele vir ao Brasil, eu tinha um projeto com o Olaf Thorsen e o Dave Lombardo. Quando ele veio ao Brasil com o Vision Divine, fui ao hotel falar com eles e muita gente viu isso. E foi na época que estávamos procurando novos integrantes. Em janeiro deste ano fui à Itália para resolver este projeto e eles dois estavam gravando material para o novo disco do Vision Divine. Deve ser daí que surgiram os boatos, mas sempre quisermos um cara brasileiro na banda. E o Lione está no Rhapsody! Não ia entrar para a banda.

RU – Eu me surpreendi om o trabalho do Edu no Angra, pois apesar de bom vocalista, no Symbols e no Mitrium não mostarva todo esse potencial,. Como vocês exploraram ele?
Kiko Loureiro -  As bandas nacionais são muito boas mas os caras estão sempre se auto-produzindo. Então, quando o cara vai gravar um disco, ninguém dá um toque e ele se auto-produz e não aceita opinião e não canta para a música. Com guitarrista é a mesma coisa, pois o cara quer por um monte de solo e tocar rápido. Então, tem que ter um cara de fora para orientar. Quando ele entrou para o Angra, a gente e o produtor dava esse toque, pois a música tem certas dinâmicas que todos tem que obedecer. No Brasil, as bandas gravam vozes em dois dias, enquanto a gente gravou a voz em quinze dias, o cara tem amis tempo de gravar, pensar e descansar. Ele sempre teve esse potencial, mas agora ele teve condições para isso. Banda nós temos pra caramba, mas não temos as condições pra fazer um trabalho melhor. E a maioria das bandas nacionais não fazem muito show, não tem esta experiência, enquanto na Europa os gravam um disco e fazem 30, 40 shows, então com o passar dos anos as bandas de lá saem na frente. Tem muitas bandas que todos os caras tem o mesmo peso, então não tem como um dar palpite no outro. E as bandas tem que ter essa abertura para ouvir todos na banda, pois todos são importantes, mesmo que não saibam sobre tal instrumento.

RU – E quanto ao Felipe e o Aquiles?
Kiko Loureiro - Eles renderam mais do que haviam rendido antes, mas esperávamos esse rendimento deles. Se rendessem a mesma coisa, aí eu teria me decepcionado. A gente ensaiou muito para isso, pois Metal não é música de improviso, é música armada.

RU – E uma coisa que sempre falei. Aqui no Brasil, o cara trabalha o dia todo, pega condução, paga suas contas, tem seus problemas aí chega de noite tem que ensaiar ou gravar. Ou seja, nem condições físicas ele vai ter para isso.
Kiko Loureiro - Sem contar que as vezes o cara pega uns horários de madrugada e aí nem dorme para trabalhar no dia seguinte. E quando o cara está começando, ninguém está investindo na banda, o cara não pode parar de trabalhar para viver da banda apenas. Poças bandas fazem isso, como o Krisiun e o Sepultura no começo.

RU – E deram certo.
Kiko Loureiro - Fazendo isso, não tem como não dar certo. Esta fosca de vontade é um talento, tem gente que tem tal;ento para tocar dez horas de guitarra por dia e tem gente que não, tem, e abrir mão de certas coisas, como sair no fim de semana com os amigos. Quem abre mão e investe, acaba dando certo.

RU – Rebirth deve ser o CD mais pesado da banda, com mais guitarra e mais direto, mais na cara, que é a essência do Heavy metal e do Rock’n Roll.
Kiko Loureiro - O jeito que a gente tocou guitarra neste disco é o mesmo dos outros. Também tem os mesmos teclados, mas é na mixagem é que você faz a cara do som. O Dennis achou um timbre bonito, então podia colocar a guitarra alta que não incomodava. E com a guitarra estava bonita e alta, ficou se sobressaindo mesmo. Ele mesmo disse que ouvindo os discos do Angra ele não gostava do som das guitarras. Ele correu atrás disso e achou. A primeira música demorou três dias para mixar!

RU - Esse tempo a mais na produção acabou fazendo este resultado melhor.
Kiko Loureiro - Só que este foi o disco mais rápido para gravar. Antes não podia nem exigir quantos dias o vocal teria que ser gravado, então ficava uma coisa aleatória. E como eu e o Rafael temos mais experiência, podíamos exigir mais. Esse foi o CD mais enxuto do Angra, com menos tempo e menos dinheiro gasto, mas sem denegrir a qualidade. A produtividade foi muito melhor. E para o pessoal novo foi um luxo, pois nunca tinham tido uma oportunidade dessa para gravar. E agente não manda na banda, só temos mais peso, pois já temos dez anos de banda, só isso. Mas sempre tivemos tolerância um para com o outro, assim como eles tinham liberdade para opinar.

RU – Fora a experiência de lidar com a imprensa, que você e o Rafael já tem e eles ainda não.
Kiko Loureiro - Aqui no Brasil é tranqüilo você dar entrevista. Mas cada país tem a sua cultura e você tem que respeitar. Como o tecladista do Malmsteen que falou aquela besteira. Pô, o cara não em noção. Cada país tem seu jeito, na Alemanha eles são muito secos, eles chegam na sua cara e se não gostaram eles falam mesmo. Ou no Japão, os caras da Burn. E lá eles tem esse lance de hierarquia muito grande, tem cara que está a trinta anos no mercado. Aqui, os caras tem no máximo quinze anos, e o pessoal do Brigade que está a décadas, mas você pega o Mazarito do Japão, que está desde 60 e nada, o cara é um Deus lá e você tem que trará o cara assim também. E os caras da banda pegaram rápido isso.

RU – A música Unholy Wars tem uns lances árabes e vocês fizeram isso antes deste problema no Afeganistão. Como surgiu essa idéia?
Kiko Loureiro - Tem a ver com o que falei antes, da tolerância dentro da banda. As letras falam do que eu e o Rafael vivemos no passado. E o tema árabe foi para trazer essa sonoridade para esse nosso tema. Foi uma aventureba, pois misturamos maracatu e no final vem o lance árabe.

RU – Aproveitando o gancho, essa intolerância tem a ver com a guerra e surgiram muitas coincidências, como o CD do Dream Theater sair no mesmo dia dos atentados e ter o World Trade Center em chamas, o disco do Slayer ter saído no mesmo dia também, e até a Globo fez a novela com tema árabe antes disso.
Kiko Loureiro - Eu acho que o tema árabe é fascinante, por isso todos sempre estão abordando. E o Anthrax? A banda vai ficar mais famosa agora? (risos)

RU – Parece que enquanto não resolverem este problema da palestina, o mundo não vai ter paz.
Kiko Loureiro - Esses acontecimentos são bons para as pessoas abrirem a cabeça e olharem para os dois lados, pois os EUA não são tão bonzinhos assim. Isso é uma troca de coisas ruins em todos os lados.

RU – E o legal dessa música nesta época é que nesse conflito, vocês colocaram a música brasileira, mostrando que aqui é que as coisas estão certas, pois todas as raças, etnias e credos convivem pacificamente.
Kiko Loureiro - Com certeza!

RU – Quem vai ser o tecladista nos shows, o Fabrício do Karma?
Kiko Loureiro - Negativo, vai ser o Fábio Laguna. Na época da coletiva que demos no lançamento, não tínhamos ainda nada certo. E o que podemos adiantar é que nessa turbulência toda quem nos apoiou foram nossos fãs. Queria agradecer a todos pela força que deram neste período.

ANGRA
Rebirth

Paradoxx – nac.
Um petardo sem dúvida que vai atrair a atenção até de quem não era fã da banda. A intro já aumenta a expectativa que este aguardado lançamento gerou, In Excelsis. Depois Nova Era é o Speed Power Melódico tradicional da banda. Millennium Sun já diferencia, é mais trabalhada e já mostra a versatilidade de Edu Falaschi, cantando em tons mais baixos e alternando com mais altos. É um Heavy revitalizado. Acid Rain é o hit e mostra o lado Épico da banda. Heroes Of Sand é a inevitável balada e a banda mostra que ainda sabe fazer muito bem, bem como a faixa-título. Unholy Wars é a polêmica que mais se aproxima do Holy Land e mostra a profundidade e conteúdo dos músicos. Judgement Day  mostra a virtuose e o lado mais Prog. Running Alone é a mais épica de todas e mais melódica, naquela linha adotada por muitas bandas mas que o próprio Angra ajudou a difundir e a fazer. Visions Prelude é lenta e encerra de forma celestial e atmosférica este renascimento. Assim como o anjo e o céu azul da capa.JCB – 9,0