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Entrevista: Júlio César Bocáter

O Avec Tristesse é mais uma banda do Rio a enveredar pelos caminhos do Black Doom Gótico de qualidade como outras formações do Estado. Pedro Salles nos conta um pouco desta nova banda.

RU - Como a banda foi formada?
Pedro Salles – No final de 99, eu juntei algumas composições minhas que não se encaixavam em outras bandas que eu tocava na época e decidi montar uma banda para executá-las. Depois de algumas formações, encontrei o Raphæl G. e o Nathan Thrall que eram pessoas ideais para a banda e começamos a gravar o disco Ravishing Beauty.

RU - Como conseguiram contrato com a Hellion?
Pedro Salles – Uma outra gravadora estava interessada em lançar nosso disco antes, mas como ela estava com a agenda lotada durante um ano, ela nos passou para a Hellion, que se enquadrava mais com o nosso som.

RU - Ravishing Beauty é excelente! Mas por que é tão curto, com sete faixas em meia hora?
Pedro Salles – Eu poderia inventar uma estória conceitual sobre isso, mas a verdade é que gravamos praticamente o disco inteiro com o meu salário. Não dava para gravar mais nada por causa das limitações financeiras.

RU - Fale sobre o conceito da banda, desde o nome que evoca tristeza, a bela capa e produção de primeiro mundo.
Pedro Salles – Eu queria mostrar o lado negro da vida consciente e inconsciente. As letras falam do belo exterior que seduz e depois destrói. Falam também de visões e sonhos desagradáveis e frustrantes. A capa é uma metáfora para tudo isso. É um quadro que retrata uma cena da peça Hamlet de Shakespear. Ravishing Beauty, que em português significa “Beleza Devastadora”, têm um sentido ambíguo: pode ser devastadora tanto literalmente como em dimensão, mas em ambas as formas, ela pode proporcionar tristeza e desilusão. Eu sou designer gráfico e já trabalhei muito com artes gráficas, então talvez seja pela experiência que tenho nessa área.

RU - A cidade da banda, Rio de Janeiro, apesar de ser uma das mais quentes e ensolaradas do mundo e da cultura do carnaval, samba, futebol, os morros e o funk, é a maior geradora de Metal Mórbido de Black, Gothic e Doom do Brasil com excelentes bandas como Refugium Pecatorium (que acabou recentemente), Quintessence, Imago Mortis, etc. além do puro Black Metal. A que se deve isso? Seria justamente uma resposta à imposição citada no começo da pergunta?
Pedro Salles – O Rio de Janeiro é uma cidade muito cultural e cultura é um meio de expandir a mente das pessoas, então acredito que os músicos daqui buscam mais a originalidade do que em outros Estados.

RU - Além destas vertentes, o Heavy Metal Tradicional e Melódico também tem grandes representantes no Rio. Mas apesar desta alta qualidade, a cena parece ser pequena, sendo que as bandas daí têm mais público fora do que no próprio Rio. Por que isso acontece? Está havendo alguma mudança nesse sentido?
Pedro Salles – Na verdade, o público daqui é muito grande, mas desunido, por causa da geografia da cidade que corta a comunicação entre os apreciadores de Metal e a descrença das casas de shows, rádios e meios comunicativos nesse estilo, mas acho que essa situação pode ser revertida se as pessoas se unirem e se organizarem.

RU - Em que a banda se inspira para fazer essa saborosa mistura de Black, Doom e Gótico?
Pedro Salles – Nos inspiramos em trilhas sonoras de filmes, Death Metal em geral e nas nossas experiências de vida.

RU - O Avec Tristesse é uma das bandas mais originais do Brasil, ao lado de Mithological Cold Towers e Miasthenia. O que acha destas bandas?
Pedro Salles – Mithological Cold Towers eu ouvi uma música e achei legal. Miasthenia é muito bom! Tenho o último CD deles.

RU - Estando numa das maiores gravadoras de Heavy Metal do Brasil, a Hellion, a banda terá mais oportunidade de aparecer, inclusive shows e abertura de bandas internacionais. Mas, como vem para o Brasil mais bandas Tradicionais e Melódicas, será difícil abrir para alguma banda gringa. Como você vê esse quadro?
Pedro Salles – A única vantagem importante que eu vejo em abrir para uma banda grande, é a infra-estrutura, mas acho que ao invés de ficarmos esperando uma banda grande aparecer por aqui para nós abrirmos o show deles, seria muito mais interessante se fôssemos lá na terra deles mostrar o nosso som.

RU - Por que a banda não tem uma vocalista feminina fixa? Isso não ajudaria e abrilhantaria ainda mais a música da banda?
Pedro Salles – Nós gostamos mais de vocais masculinos. Não acho que a inclusão das vozes femininas melhora ou piora a música. É apenas um artifício parar conseguir uma variação maior nas texturas sonoras que criamos.

RU - Quem são e de onde vêm Raquel Antunes, que canta em The Crown Of Uncreation e Paean e Denyze Moreira que sussura na fantasmagórica e narrada De Sombre Amour Et Souffrances? Aliás, esta é uma vinheta em francês, por que fazê-la, de onde veio a idéia e o que ela significa?
Pedro Salles – Raquel Antunes é uma conhecida minha que mora perto do meu bairro. Ela canta muito bem e aprendeu as partes dela muito rapidamente, porém, ela não é do meio Metal. Denyze Moreira era namorada do nosso ex-guitarrista e como a gente queria uma voz feminina para declamar as letras em francês, ela se mostrou a pessoa ideal por dominar a língua. O tema em francês um texto romântico que questiona a sobrevivência humana em meio a tanta indiferença aos problemas da terra.