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Quorthon: Rest In Peace In Valhalla!

Rogério Corrêa
Sim, infelizmente é verdade. Mais uma lenda do Heavy Metal se vai, exatamente no dia 7 de junho de 2004. Quorthon é encontrado morto em sua casa, Estocolmo, Suécia. O motivo da morte até agora foi um ataque cardíaco. Esta matéria sobre o Bathory e seu mentor, Quorthon, entraria possivelmente na edição seguinte a essa, em uma futura seção na ROCK UNDERGROUND que ainda está em estudo, que só não vigorou até agora por absoluta falta de espaço.  Então, como recebemos esta notícia quando a revista já estava na gráfica, antecipamos esta matéria especial, para homenagear Quorthon e para falar um pouco de seu legado.
Quorthon é um dos papas negros do Black Metal. Venom, Celtic Frost e Bathory. Cronos, Tom Warrior e Quorthon. Estas três bandas destes três grãos-mestres formam a maldita tríade satânica do Black Metal. Tudo começou com eles, e são até hoje, as principais referências e influências unânimes para qualquer pessoa que se diga fã e tenha banda de Metal Negro. Cronos e o seu Venom vieram da Inglaterra, surgindo dentro da NWOBHM. Sim, eles surgiram junto com Def Leppard, Saxon e afins, se diferenciando pelo som mais agressivo, cru, tosco e descabido de técnica. Enquanto isso, Tom Warrior na Suíça, surgia com o Hellhammer, que durou pouco, se tornando logo em seguida no Celtic Frost. E Quorthon na Suécia, formava o Bathory, outro pilar do Metal Satânico.
As características iniciais do Bathory eram quase as mesmas de Venom e Celtic Frost. Metal cru, ríspido, frio, calculista, tosco, mal tocado, mal gravado, vocais ininteligíveis, letras satânicas, visual carregado e imagem assustadora. Assim começou o filho bastardo do Heavy Metal, o Black Metal.  Formado em 83 pelo multi-instrumentista Seth Quorthon e dois amigos, somente por diversão, o Bathory fazia covers de bandas como Black Sabbath e Venom. O nome foi inspirado condessa Elizabeth Bathory, nascida em 1560, que morava em um castelo na Hungria. Diz a lenda que ela se banhava em sangue de virgens porque acreditava ser o segredo do rejuvenescimento. A condessa, além de ser uma das inspirações para o público Gótico, foi um dos temas principais da carreira de Cradle Of Filth. A condessa ainda é uma das figuras mais lembradas quando se fala em vampirismo medieval.
A banda permaneceu como um trio até 87 e a partir de então, a banda passou a ser uma banda de um homem só, um faz tudo, único executor. Quorthon foi o pioneiro neste tipo de projeto, que se tornou comum depois, com bandas feitas por um músico só. Outra característica marcante do Bathory e de seu mentor é a de não tocar ao vivo, sendo apenas um projeto de estúdio. Esta foi outra contribuição de Quorthon para a cena Black Metal, a de não tocar ao vivo. Esta atitude não deixa de ter o espírito do “do it yourself”, pois mostra que, mesmo que você não seja um bom músico, mesmo que você não ache nenhum músico que compartilhe de suas mesmas idéias musicais e mesmo que você não goste de tocar ao vivo e não ache pessoas que possam executar suas músicas e que possa conviver de maneira descente na estrada, isto tudo não te impede de ter uma banda de Black Metal.
Isto não só foi uma maneira para poder continuar avante diante de tantas limitações, como também mostrou outras vantagens. A maior delas é que, já que não vai executar suas músicas ao vivo, em estúdio então, você pode fazer e experimentar o que quiser, já que não terá a obrigação de ter que reproduzir isso. Outra vantagem é a de que, quando você escuta um disco de Black Metal, seja das bandas dos anos 80 da tríade satânica, seja o Black Sinfônico de um Dimmu Borgir, seja as bandas cruas, extremas e desgracentas da Noruega dos anos 90, o ouvinte viaja na música e imagina um mundo fantástico, cheio de demônios, gelo, neve, florestas e seres espetaculares, coisa impossível de se reproduzir ao vivo ou mesmo em um vídeo clipe. Então, com o Bathory, sua imaginação pode ir aonde você quiser, já que nunca o verá ao vivo (e agora com a morte de Quorthon, não verá mesmo!).
Em fevereiro de 84 o Bathory participa da compilação Scandinavian Metal Attack com as músicas Sacrifice e Return Of The Darkness And Evil. Em outubro do mesmo ano, a banda debuta com Bathory. Em maio de 85 é lançado o sucessor The Return, mantendo a mesma linha de Bathory.
Outra inovação foi a de Quorthon admitir e executar influências de música clássica em sua banda, como Wagner e Nietszche. Mais uma vantagem de não tocar ao vivo, visto que muitos arranjos, passagens, efeitos e até mesmo músicas, seriam impossíveis de se reproduzirem ao vivo.
Além de inovar, Quorthon mostrou-se visionário. Se o Venom ia se despedaçando, em suas relações pessoais e cheias de brigas, e musicalmente, já que a banda não tinha mais pro onde ir, e o Celtic Frost se vendia e se rendia ao mercado americano, mudando de uma hora para outra do Black Metal para o Hard Glam comercial, manchando o nome da banda até hoje, o Bathory conseguiu manter sua reputação mudando seu som. Sim, pois Quorthon se cansou de falar do diabo e de temas satânicos e foi a primeira banda a fazer o chamado “Viking Metal”. Sua origem sueca (país Viking por excelência) fez sua música retroceder à época da barbárie e do orgulho de seus antepassados. Aliás, Quorthon assumia que não era satanista e que fazia tudo aquilo por diversão e molecagem, assim como o Sepultura no começo de carreira. Ele se sentia mais a vontade registrando fonograficamente a história de seus antepassados. Under The Sign Of The Black Mark de 87, marcava esta mudança.
Na sequência, vinham Blood, Fire, Death de 89 e Hammerheart em 90, com músicas longas (que se tornaram praxe no Black Metal níórdico) e as letras falam principalmente da vida dos guerreiros e de batalhas. Em junho do ano seguinte sai Twilight Of The Gods que traz um som mais lento, pesado e depressivo que o álbum anterior. A temática continua sendo viking, mas a influência de música clássica passava a ser cada vez maior, resultando num som épico. Aliás, o Bathory foi uma das primeiras bandas a adotar elementos épicos em sua música. Em 9a sai a coletânea Jubileum Volume I e a II em 93, com o inédito Réquiem em 94, onde a banda trás um leve retorno às origens, mas mantendo as características épicas. Em 95 sai Octagon, a banda fica mais Thrash que o anterior, com um toque industrial. Os vocais estão mais crus e não tão abafados, e as letras mudam de foco para temas da sociedade, como guerra, violência e intolerância. As letras saem enfim da fantasia (seja ela satânica, viking ou épica) para o cotidiano do mundo real. Os fãs reagem com indiferença à esta mudança, mas Quorthon estava cansada de falar de mitos e lendas, sejas as quais forem. Já Blood On Ice, de 96 e marca uma volta ao Viking Metal, mais lento, com as letras em forma de saga.
Em 94, Quorthon produziu seu primeiro álbum solo, Álbum. O segundo, Purity Of Essence, de 97. Sua carreira solo em nada tinha a ver com o Bathory. Nada de Satã, nada de Viking, nada de Épico, nada de Metal. Apenas um Pop Rock alternativo.
Em 98 sai Jubileum Volume III, em 2001 Destroyer Of Worlds, mais uma coletânea no mesmo ano, Katalog, e Nordland I em 2002 e Nordland II em 2003, seu último disco. Quando Quorthon morreu, estava escrevendo o próximo disco do Bathory, Dra Ballen I Gruset Grabbar.
Em suma: independente de sua crença, caro leitor, e da crença de Quorthon, o mínimo que podemos desejar a este sueco, por tantos serviços prestados ao Metal, por tanta ousadia, criatividade, talento, inovação e visão, que ele descanse em paz com os deuses Vikings em Valhalla!