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A Ópera E O Heavy Metal Juntos

Entrevista: Júlio César Bocáter.
O Blind Guardian já é uma banda grande no Brasil desde sua turnê em 98. Agora, eles estão chegando novamente, melhores e mais desenvoltos para apresentar A Night At The Opera. Hansi Kürsch (V), Marcus Siepen (G), Andre Olbrich (G) e Thomas Stauch (D) são cirurgiões (pois são precisos) e artesãos (porque esculpem sua música) ao mesmo tempo do Heavy Metal! A priori, quem faria a entrevista conosco seria Hansi, mas como não pôde nos atender no horário combinado, o simpático e objetivo Marcus foi quem respondeu aos nossos anseios e dúvidas. Se prepare, pois agosto será mês das Noites do Terror e das “Noites para a Ópera”!
RU – Vocês tem medo de perder fãs por demorarem em média quatro anos para lançar um álbum, como agora entre Nightfall In Middle-Earth e A Night At The Opera?
Marcus Siepen – Sim, realmente é muito tempo entre um disco e outro. Os fãs ficam ansiosos por um novo álbum e começam a acontecer boatos negativos. É um risco que corremos quando isto acontece, mas se lançássemos um disco a cada dois anos apenas e fosse um disco que nossos fãs não aprovassem, também poderíamos perder fãs do mesmo jeito. E este quatro anos foram cheios, pois a turnê de Nightfall In Middle-Earth foi a mais extensa que tivemos e Hansi, além do problema do ouvido, fez nesta parada o projeto Demons & Wizards, com John Schaeffer do Iced Earth.

RU – Como está o ouvido de Hansi agora?
Marcus Siepen – Praticamente perfeito! 

RU – O que você ainda lembra da turnê no Brasil em 98?
Marcus Siepen – Muitas coisas boas! Fãs calorosos, mulheres lindas e boa comida! Vocês são realmente fantásticos!

RU – O que você acha de tocar em lugares maiores desta vez. Em São Paulo, em 98, vocês tocaram para quatro mil pessoas, no Olímpia, e agora vocês tocarão no Via Funchal para seis mil!
Marcus Siepen – Sério? Isso é grande, fantástico, ainda não sabia disso! Vou ter que me preparar melhor! (risos) Isto é prova de que estamos crescendo e de que estamos no caminho certo quando demoramos para lançar um disco! (risos) Mas já pudemos sentir isso na turnê do Nightfall... , em que tocamos em lugares maiores de que nos shows anteriores e agora A Night At The Opera está acontecendo o mesmo, o que só faz aumentar a responsabilidade.

RU – Sim, tanto que após a turnê de 98, o Blind Guardian cresceu muito no país, chegando no nível de bandas como Judas Priest e Saxon, em termos de público e venda de CD’s.
Marcus Siepen – É uma honra, os brasileiros são especiais para nós.

RU – Uma prova de como vocês são grandes por aqui e de como o Metal cresceu muito aqui é este fato: neste mesmo show em 98 nesta mesma casa, uma semana depois o Smashing Pumpkins tocou lá para o mesmo público, quatro mil pessoas. Seriam dois dias de shows deles, mas como não houve boa venda, fizeram em apenas um dia. Isto já aconteceu com vocês em outros países?
Marcus Siepen – Digamos que sim. As casas onde o Blind Guardian tem tocado na Europa são as mesmas em que as grandes bandas de Metal e estas de Rock e Alternativo tocam. As vezes, nossos shows são até mais cheios que estas. Na Alemanha é assim.

RU – Só que tanto no Brasil, como no resto do mundo, acredito que o Blind Guardian toque muito em rádios e na MTV do que estas Alternativas. Pois aqui nesta época, o Smashing tocava todos os dias na rádios e não sei quantas vezes nas paradas da MTV.
Marcus Siepen – Sim! Isto prova que nosso público é o mais fiel! (risos)
  
RU – Outra curiosidade: na faixa Under The Ice há um barulho, parecido com o de um toque de telefone em determinado momento do refrão, nas quatro vezes em que é cantado (nota do E: pegue o CD e ouça esta faixa e preste atenção no reloginho do seu CD player quando der 1”46, 3’05, 4”57 e 5”11). O que é isto?
Marcus Siepen – Isto é um mistério, pois eu também não sei! Muitas pessoas têm nos perguntado sobre isto e não sei o que foi, me parece uma espécie de sino ou campainha. Outro dia no site da internet, surgiu até uma discussão sobre o que seria aquele ruído, muitos falavam que seria algo sobre-natural e etc.! (risos)

RU – A Night At The Opera não é um album conceitual, mas tem em Deus e na religião a maioria de seus temas. Em There Was Silence é sobre Apollo. Precious Jerusalem sobre Jesus Cristo, Age Of False sobre Galileo Galilei e a santa inquisição, Sadly Sings Destiny sobre a fé e ainda Punishment Divine sobre um filósofo alemão que insultou Deus e foi castigado. A Night At The Opera é um álbum com uma temática religiosa? Qual a relação entre a religião e Deus de vocês e com a banda?
Marcus Siepen – Bem, A Night At The Opera realmente não é um álbum conceitual muito menos religioso. Eu particularmente, não tenho religião alguma e não acredito nem em Deus e céu e nem em Diabo e inferno, bem como a maioria da banda. O que acontece é que, mesmo que você não acredite em nada, não há como negar a influência da religião e de Deus e Diabo nas nossas vidas. Quase toda a arte, seja ela música, pintura, literatura e etc. tem uma forte influência de Deus, do mal, da vida após a morte e todos estes mistérios. E como somos artistas músicos, não ficamos atrás. Você sabe, há milhares de bandas de Metal que cantam sobre Deus e sobre o Diabo. Nós não somos nenhuma destas, apenas escolhemos temas que gostamos e que encaixem em nossa música. Nossa música é intensa, dramática, pesada e sinfônica, portanto este tipo de tema épico é um dos que mais casa com ela. Estes temas que você citou em que falamos nestas músicas, são temas misteriosos e fantásticos e, mesmo que você acredite ou não, são apaixonantes, rendem boas histórias. Apenas isto. Mas concordo com você que desta fez falamos muito sobre assuntos ligados à fé! (risos) Nem eu havia percebido isto! (risos)

RU – O que você achou da Copa do Mundo deste ano? Parabéns pelo merecido vice-campeonato da Alemanha.
Marcus Siepen – Obrigado. Eu não sou um grande fã de futebol, eu assisti apenas alguns jogos quando estava na casa de algum amigo ou familiar. Assisti a final também. Mas pelo pouco que entendo, as pessoas e a imprensa criticaram tanto esta seleção alemã, dizendo que era a pior de todos os tempos, e no entanto ela chegou até a final.

RU – E uma injustiça, pois nas duas últimas Copas, da França e EUA, ela não havia chegado nem entre os quatro. E as outras seleções que era tão favoritas como Portugal, Argentina, França e Itália e ficaram logo no começo?
Marcus Siepen – Pois é! Muita gente quebrou a cara!

RU - Entre Nightfall In Middle-Earth e A Night At The Opera foram quatro anos. Neste período, muitas bandas e estilos surgiram, como você assistiu tudo isto?
Marcus Siepen – Eu não acompanhei muito mas realmente muitas bandas apareceram, muitas outras voltaram e muitos estilos surgiram, acho isso bom.

RU – Como você sabe, esta entrevista seria feita com o Hansi, que não pôde nos antender, portanto tinha algumas perguntas específicas para ele...
Marcus Siepen – Pode mandar que eu tento responder!

RU – Neste tempo, ele tocou também com o Demons & Wizards e não só ele como vocês puderam conviver com muitas destas bandas no Underground, e tocando em festivais em que todos se vêem. O que ele e vocês aprenderam?
Marcus Siepen – Bem, posso responder por mim. Aprendi muito, embora a maioria sejam bandas novas e muitas delas sejam clones de Helloween, Iron Maiden e Blind Guardian, há muita coisa boa. Nestes festivais, como o Wacken, por exemplo, pude conhecer muitos deles que vinham falar com a gente, principalmente Hansi. De certa forma, o Demons & Wizards ajudou a manter o nome e a evidência do Guardian neste tempo.

RU – E neste período, dezenas de músicos consagrados morreram, como você sentiu tudo isso?
Marcus Siepen – Lamentável e estúpido. Estúpido pois muito morreram pelo excesso da droga ou overdose e muitos por câncer, que ainda é incurável. 

RU – Em 98, ano de Nightfall In Middle-Earth, o Heavy Metal ainda estava meio em baixa, e agora com A Night At The Opera em 2002, o Heavy Metal está num bom momento novamente. Neste, tempo, o Blind Guardian foi muito lembrado pelo filme The Lord Of The Rings, cujos autores e temas foram muito bem explorados pelo Blind. Eu acredito ser este o melhor momento da banda. Você está sentindo alguma diferença?
Marcus Siepen – De certa forma sim. Estamos num momento muito bom, estamos com um bom álbum no mercado...

RU – (interrompendo)... bom não, um excelente álbum!
Marcus Siepen – Obrigado! Tem um excelente álbum como você mesmo disse, (risos) muitos shows e turnês marcadas. Temos mais datas e em lugares maiores na média, boas críticas e sempre falam da gente ao se referirem ao filme que você citou.

RU – Eu via muita gente nas filas do cinema com a camiseta de vocês.
Marcus Siepen – Acho que isso é um reconhecimento por termos ajudado a divulgar esta obra. E quanto ao momento entre 98 e agora, realmente as coisas estão melhores para todo mundo. Apesar de a cena e o mercado ter caído muito no Japão com a crise da Ásia, foi o país quem sustentou e manteve muitas bandas na ativa, nos momentos difíceis do Heavy Metal. Por outro melhorou em toda a Europa, na América do Sul e até um pouco nos EUA e em outros países que nunca se ouvia falar em termos de Metal no leste da Europa e até alguns da Ásia.

RU – Outra pergunta que seria para o Hansi, mas acho que você pode responder. Nos shows de 98, você via ele um pouco perdido no palco, por não estar mais tocando baixo ao vivo, tanto que a banda contratou um baixista para isso. Agora ele já deve estar mais confortável sem ter que segurar o baixo e só cantar, não é?
Marcus Siepen – Com certeza, no final da turnê do Nightfall... ele já estava mais acostumado. Agora vocês vão ver, ele está um perfeito frontman! (risos)

RU – Então ele deve estar já um David Lee Roth? (risos)
Marcus Siepen – Quase! (risos) Mas quero deixar claro que ele ainda é o baixista da banda, ele compõe e grava com o baixo. Apenas nos shows em que ele só canta. Nossa música está ficando cada vez mais difícil e reproduzir ao vivo é complicado.

RU – Mais uma curiosidade: o baterista Thomas Stauch também tocava no Iron Savior e depois saiu. Rolaram boatos de que Piet Silk havia colocado nos cartazes que ele ainda estava na banda para continuar chamando mais atenção e que Thomas não havia gostado. Isso realmente aconteceu?
Marcus Siepen – Não foi boato, isto aconteceu mesmo! Nós mesmos pudemos ver. Não quero falar sobre isso, apenas que Thomas realmente ficou muito chateado. Piet não precisava ter feito isto.