Vida, para quem precisa!
Entrevista: Júlio César Bocáter.
O Imago Mortis é uma das maiores bandas brasileiras, e talvez a maior em se tratando de Metal melancólico. Depois do grande debut Images From The Shady Gallery e da marcante presença no projeto Hamlet, a banda lança pela Die Hard (a mesma gravadora do Hamlet) o poderoso Vida, um dos CD’s mais difíceis de se rotular. Afinal, a banda é tão eclética e rica musicalmente que é uma das tarefas mais árduas comentar o CD, mas uma das mais prazerosas também. A banda é formada por Alex Voorhees (V/ex-Dust From Misery), Fabrício Lopes (G), Fábio Barreto (B), André Delacroix (D) e Alex Guimarães (K). Mas foi Fábio quem deu uma pincelada na carreira da banda até chegar neste clássico do Metal nacional.
RU - Fale-nos do começo da banda até o lançamento de Images From The Shady Gallery.
Fábio Barreto – O Imago Mortis surgiu em 95, quando lançamos a demo “Réquiem”. O nome da banda significa “imagem da morte” e foi retirado de um antigo ditado romano que diz: “o sono é a gélida imagem da morte”. Esta demo foi super bem recebida, chegamos a distribuir mais de duas mil cópias e tocamos bastante no circuito underground e universitário. Vencemos alguns festivais estudantis, inclusive o Overdrive, que na época era o mais importante festival alternativo do Rio.
RU - Images From The Shady Gallery saiu pela Megahard em 98. O que acharam do trabalho dels e por que saíram dela?
Fábio Barreto – É interessante, mas há meros quatro anos atrás a cena brasileira era bem mais reduzida que a de hoje. Em 98 praticamente só existiam três gravadoras lançando bandas brasileiras de metal: a Cogumelo, a Heavy Metal Rock e a Megahard. Ter lançado este primeiro CD pela Megahard foi legal e na verdade até um privilégio, pois eram pouquíssimas as bandas que conseguiam lançar seus trabalhos por uma gravadora, a maioria lançava independente mesmo. Hoje a cena é muito mais ampla, há muito mais bandas, gravadoras e revistas de qualidade, mesmo sem estar “na moda” o Metal caminha com suas próprias pernas... Isso possibilitou o crescimento de uma nova mentalidade dentro do metal, mais madura, mais ética e, com certeza, mais profissional. Este é certamente o caso da Die Hard, que está lançando nosso segundo CD. Em minha opinião, a Die Hard é hoje a melhor gravadora brasileira de Metal.
RU - Naquela época a banda usava o conceito Heavy Doom Filosofia. A banda ainda o adota e o que ele significa?
Fábio Barreto – Heavy Doom Filosofia era o nome do informativo do Imago na época da demo-tape. Adotamos este nome porque acreditávamos que éramos uma banda de Heavy Doom e falávamos sobre filosofia em nossas letras.
RU - Como o Imago Mortis entrou no projeto Hamlet e chegou na Die Hard para lançar o segundo CD?
Fábio Barreto – O primeiro contato entre o Imago e a Die Hard foi intermediado pela Janaína Loureiro, nossa manager. Nós ficamos completamente embasbacados quando soubemos do Hamlet, era inimaginável que um projeto de tal magnitude estivesse sendo levado a cabo aqui mesmo no Brasil! É realmente um motivo de grande orgulho para nós ter participado do Hamlet, este foi indiscutivelmente um marco na história do Metal brasileiro. A partir daí vimos que a Die Hard seria com certeza a melhor gravadora para lançar o Vida, poderíamos até ter lançado este álbum antes, por outra gravadora, mas valeu a pena esperar! Como dizem os chineses, “o coração que crê realiza seus sonhos”.
RU - Vida é um álbum esmagador! A banda conseguiu manter seu estilo, sem soar datado e sem soar modernoso. Apesar do tempo entre os dois discos ser grande e a troca no line-up, como a banda conseguiu isso?
Fábio Barreto – Obrigado! Acho que a mudança na formação só fortaleceu a banda. O Alex Voorhees já havia feito uma participação em nosso primeiro CD, mas acabou assumindo oficialmente o posto de vocalista durante a turnê de divulgação do Images... Já o André Delacroix entrou praticamente ás vésperas da gravação do Vida, mas ele contribuiu imensamente para a sonoridade final, pois é um baterista super seguro e firme. Quanto ao nosso estilo, acredito que sempre iremos soar como Imago Mortis, simplesmente porque não queremos soar como ninguém mais. A nossa música vem do coração.
RU - Se Images From The Shady Gallery soava naquela linha inglesa de Doom, em Vida a banda se volta mais ao estilo nórdico, como nas duas primeiras faixas. Você concorda com tudo isso e o que acha?
Fábio Barreto – Quando compusemos o Vida, ficamos abertos a todo tipo de influências, não somente dentro do Metal, como até fora de um contexto estritamente musical. A máxima de que “tudo está relacionado com tudo” foi seguida por nós até o limite, procuramos criar tantas referências quantas fossem possíveis, de forma que as pessoas fossem criando suas próprias pontes ao ouvir este disco. Acho super válido que você tenha enxergado estas referências, embora não necessariamente esta tenha sido a nossa visão ao escrevê-las. É como a história dos sete sábios hindus que se reuniram para descrever um elefante. Como os sete eram cegos, a única maneira de perceber o elefante era através do tato, então um disse que estava diante de um tronco de árvore, o outro de uma rocha, o outro de uma cobra, o outro de uma folha, conforme estivesse tocando a pata, a barriga, a tromba ou a orelha do elefante, e por aí vai...
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