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AINDA BLACK METAL

Entrevista: Júlio César Bocáter. Foto: divulgação

O Black Metal com certeza é o estilo mais controverso da música em geral e o filho bastardo do Heavy Metal. Desde os anos 80, bandas como Venom, Slayer e Mercyful Fate, ao lado de dezenas de outras, colocaram temas encapetados e demoníacos em suas letras e passaram esta atmosfera pela sua música. No começo dos anos 90, quando se separou o Death do Black (até então eram quase a mesma coisa), o Norte da Europa abraçou o estilo e passou a usa-lo como expressão de seus sentimentos, sejam melancólicos, satânicos, agressivos e folclóricos. Desde então, o Black se tornou o porta voz de hordas, reais e verdadeiros guerreiros, que se dividiam, se uniam e se misturavam, desde intenções grosseiras, profanas, blasfemas e gratuitas, até aquelas mais filosóficas e estudiosas, que resgatam o passado pagão com seus rituais e normas, perseguidas pela Igreja católica na Idade Média e até hoje, por preconceito pela sociedade ocidental estar embasada em costumes e crenças judaico-cristãs. Especificamente na Noruega, o estilo cresceu, expandiu e invadiu o mundo com bandas toscas, mórbidas e malditas, sendo a grande coisa no Rock desde sua criação. Para que se chamasse atenção às estas bandas e conceitos, foi criado o Inner Circle, um grupo fechado (uma espécie de maçonaria satânica) com quase todas as bandas do país sendo associadas e detentoras de atos polêmicos, como queima de igrejas, agressões (fortes rumores de que seus adeptos de uniam a neo-nazistas e faziam atos de terrorismo em conjunto), suicídios e assassinatos. O auge de toda essa discrepância foi o assassinato de Euronymous por Count Grishnack. Count foi por pouco tempo integrante da banda entrevistada em questão, e tinha outro projeto seu, o enigmático e apavorante Burzum. O Burzum era do selo de Euronymous e ambos tinham certa amizade. Até que começaram os problemas e numa suposta reunião entre banda e selo, aconteceu o crime, com Varg Vikernes (Count) matando a facadas Euronymous. Varg está preso e só a menção do nome Burzum já causa arrepios, visto como seu mentor preso pensa e age. E se o MAYHEM já era uma das pioneiras e talvez maior e mais importante banda do movimento, depois deste fato a banda virou sinônimo de qualquer coisa doentia e louca. Muitos acham que a banda mais importante seja o já finado Emperor, outros acham o Immortal por sua técnica e sucesso de vendas e shows (já que a maioria das bandas de lá não tocam ao vivo), mas isso não importa. Ninguém tira do Mayhem o posto de uma das precursoras do estilo. 

Hoje, as coisas mudaram. O Black se tornou comercialmente viável, várias gravadoras apostaram no estilo, você pode achar discos de Black até em supermercados, lojas de departamento e seu público, que era super restrito, hoje é um dos maiores no Rock pesado como um todo. As mulheres que eram um lixo para os conservadores e puros, passaram a tocar e cantar, adicionaram teclados, elementos sinfônicos, instrumentos folclóricos, melodia e as bandas passaram a fazer produções decentes, cristalinas e limpas e os músicos aprenderam a tocar. Bandas como o Dimmu Borgir e o inglês Cradle Of Filth disseminaram esse Black moderno e hoje eles como Borkagar, Vintersorg, Opera IX, In Extremo, Ragnarok, Thyrfing, Ancient, Rotting Christ, Mactätus, é tudo Black! Mas o Mayhem, apesar de flertar forte com o Techno, é um dos pilares do estilo. O novato Blasphemer foi o responsável pela longa mas necessária introdução, já que o cara faz jus à fama da banda, já que as respostas são monossilábicas. E falou também sobre o recente disco ao vivo European Legions, que já saiu no Brasil, via Rock Brigade Records.  

RU – Conte-nos sobre as mudanças no line-up do Mayhem nesses tempos todos.
Blasphemer – Nos anos de 84 a 87 a banda era Manheim, Euronymous e Necrobutcher. Maniac veio como vocalista entre 86 e 88. De 88 a 91, a banda era Hellhammer, Necrobutcher, Euronymous e Dead. Entre 91 e 93 restaram apenas Hellhammer e Euronymous e com sua morte, restou apenas o Hellhammer. E de 94 para cá a formação presente é Hellhammer, Necrobutcher, Maniac e eu, Blasphemer.
  
RU – Como está a cena norueguesa para você e o Inner Circle?
Blasphemer – A cena Metal daqui é miserável e o Inner Circle está morto.

RU – E não aconteceram mais crimes em nome do Inner Circle então?
Blasphemer – (enfático) Não!

RU – Por que o último disco ao vivo saiu com nomes diferentes, US e European Legions?
Blasphemer – Porque há alguma diferença em algumas faixas. A versão americana tem algumas músicas exclusivamente para o mercado americano e a versão européia tem outras músicas.

RU – US e European Legions é um disco ao vivo com algumas faixas bônus de estúdio, com uma nova sonoridade, ainda que com algumas diferenças entre elas. Por que a banda decidiu pôr estes bônus de estúdio?
Blasphemer – Estas canções eram pré-produções de algumas músicas que estão no novo álbum Grand Declaration Of War, uma oferenda aos fãs.

RU – Qual é o atual selo do Mayhem?
Blasphemer – Hum... atualmente nenhum! Mas eu poderia dizer Season Of Mist.

RU – Quando o Mayhem tocará no Brasil?
Blasphemer – Eu não sei ainda. Eu tenho esperanças de tocar em muitos lugares, mas não deve acontecer até o próximo ano.

RU – Deixe uma mensagem para os fãs brasileiros do Mayhem!
Blasphemer – Mantenham-se verdadeiros e maus! Nós iremos no próximo ano!