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Entrevista:
Júlio César Bocáter. Foto: divulgação.
RU – A última entrevista que fizemos com vocês foi em 2001, quando do lançamento de XVI. Dê uma atualizada no que mudou de lá para cá, inclusive mudanças de formação e etc.
Hécate – Em 2004 lançamos o álbum Batalha Ritual também pela Somber Music, realizamos uma turnê com o Enthroned e Evil War no sul e sudeste do Brasil. Em 2005 estivemos a procura de um novo baterista, ao mesmo tempo adiantando as composições de novos sons. Em 2006 Hamon (Mythological Cold Tower e Spell Forest) assume o posto de baterista. Fizemos alguns shows no sudeste. E em 2007 realizamos a gravação do mais recente  álbum Supremacia Ancestral, lançado no primeiro semestre de ano (2008) também Somber Music.

RU – Não chegamos a receber o disco Batalha Ritual de 2004. Fale sobre ele e as diferenças entre ele e XVI e Supremacia Ancestral, que são as referências que nós temos.
Hécate – A qualidade da gravação vem melhorando em cada álbum. A temática permanece essencialmente a mesma, mas o Supremacia Ancestral consegue envolver todas as letras no mesmo contexto de resistência à cristianização do continente. O XVI tem uma atmosfera mais mística e melancolia, já o Batalha Ritual é mais agressivo na temática sobre o canibalismo e as melodias são mais trágicas e rápidas. O Supremacia Ancestral tem mais influência de Heavy e Death Metal, a temática é bem mais sofisticada, a sonoridade tem uma força mais épica pela qualidade da gravação e timbres do teclado.   

RU – Como surgiu o pseudônimo Hécate?
Hécate – há muito tempo atrás, no início da banda, sempre gostei muito de mitologia grega e me identifico muito com os atributos dessa deusa ligada à lua, noite, escuridão e bruxaria.

RU – Hécate é divindade grega. Por que não usar como pseudônimo de uma entidade brasileira, indígena ou sul-americana, já que a proposta da banda é esta?
Hécate – Esse pseudônimo vem desde o início e achei melhor não mudar, muita gente me conheceu assim. É parte da nossa história e não vejo necessidade de renegar esse passado.

RU – O que vocês têm estudado, pesquisado e descoberto de nossos ancestrais ao longo desses anos todos, desde a última entrevista?
Hécate –
Muita coisa sobre mitologia, resistência à evangelização, filosofias, rituais, divindades e guerras, de diferentes povos: incas, astecas, maias, iroqueses, tupinambás, mochicas, chimús e guaranis. A resistência à evangelização nos séculos XVI e XVII nos chamou mais atenção e nos deu inspiração para a temática do Supremacia Ancestral, pesquisamos em fontes de época sobre as extirpações das idolatrias indígenas a inquisição hispânica na América.

RU – Como está a cena brasiliense para o Metal em geral?
Hécate – Vai bem para poucos, nem todos têm espaço, apoio e condições financeiras para levar uma banda ou zine adiante, também acho que nem todos têm a preocupação e dedicação necessária para enriquecer ainda mais a qualidade dos shows e a gravação dos álbuns. Tem muita banda excelente injustiçada e esquecida que merecia maior presença nos palcos, respeito e qualidade na gravação de seus álbuns.

RU – A banda tem feito algum trabalho de divulgação no exterior e na América Latina? Aliás, a banda tem interesse em divulgar seu trabalho fora do Brasil?
Hécate – Muito pouco, só agora nos dois últimos anos é que estamos mais empenhados na divulgação. Interesse nós sempre tivemos, só falta tempo para se dedicar a isso. Já respondemos entrevistas para zines da Bolívia, Colômbia, Peru e Equador, a receptividade é muito boa, mas falta ainda maior repercussão de nosso trabalho, a banda ainda é pouco conhecida lá fora.

RU – Não gosto de perguntar quais as influências da banda, mas gostaria de saber as de vocês, pois sinceramente, Supremacia Ancestral é um dos melhores discos que já ouvi dentro do que considero Fantástico dentro do Metal, abrangendo estilos como Pagan Metal, Epic Metal, Celtic Metal, Folk Metal e Viking Metal.
Hécate – Obrigada! Nossas influências são diversas, não nos inspiramos diretamente em alguma banda, temos gosto variado dentro do Metal e do Rock n’roll, desde o Progressivo ao Heavy, Thrash, Death e Grind Core mais extremo, difícil definir. Além disso, nos inspiramos muito em trilhas sonoras épicas de batalhas e na música clássica. As linhas de teclado possuem mais influência nesse sentido. 

RU - Você é a líder e “dona” da banda ou o Miasthenia é uma banda de fato?
Hécate – Para ser realmente uma banda é preciso que todos tenham os mesmos objetivos e perspectivas, que todos estejam em sintonia com a proposta e entrem em acordo. Sempre lutamos por isso, para se manter como banda, passamos por momentos difíceis no passado, mas hoje estamos numa fase muito boa de interação e respeito entre os membros da banda, nesse sentido o Miasthenia sempre foi uma banda, tudo sempre foi decidido e dividido em grupo, cada um exerce o seu papel na elaboração e execução das músicas, não há esse tipo de hierarquia.

RU – O Miasthenia toca ao vivo? Se sim, por onde têm tocado nestes últimos anos?
Hécate – Sim, tocamos mais no sudeste e centro-oeste do Brasil, fizemos apenas dois shows na região sul e nunca tocamos no nordeste. Sempre foi difícil, por causa da distância de Brasília das principais capitais, os organizadores de shows tem também dificuldades financeiras para arcar com despesas no transporte. Além disso, não temos condições de abandonar o trabalho para se dedicar exclusivamente a shows. Nossos últimos shows datam de 2006, tocamos no Brutal Devastation em BH, em Vila Velha, Juíz de Fora e Osasco (SP). O próximo será em outubro na abertura para o Mayhem em São Paulo, no próximo pretendemos agendar mais shows, estamos planejando uma turnê.

RU – Você acha que hordas como o Miasthenia ficaram muito tempo “escondidas” ou passaram despercebidas por causa de algumas poucas hordas que mais aparecem por polêmicas extrapalco do que pela música em si? Isso prejudica as bandas “reais”, mas reais de fato?
Hécate – Nós sempre estivemos na ativa, não culpamos outras bandas por isso, nunca tivemos tempos para se dedicar exclusivamente à banda, todos nós temos emprego e outros compromissos, não vivemos da banda, e então tivemos pouca repercussão na mídia. Contamos agora com um manager que tem nos ajudar a estabelecer contatos para shows e divulgação na mídia. 

RU – Me recordo de ter recebido flyers no final da década de 90 do Thormianak do projeto dele. Ele ainda tem o projeto Thormianak, ou ele só toca no Miasthenia no momento?
Hécate – Ele sempre se dedicou a outros projetos paralelos ao Miasthenia, em breve deve lançar algum material, mas o Miasthenia é a única banda no momento. O Thormianak como banda já acabou há muito tempo.