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Enferrujando o Humor

Entrevista realizada pela revista ROCK UNDERGROUND, na íntegra, e não a versão editada na revista impressa.
Foto:
Júlio César Bocáter.
Estamos diante de um fenômeno. Esta banda é responsável por colocar Portugal no mapa não só do Metal mas do Rock no mundo. Além disso, foi uma das pioneiras, misturando Metal extremo como Death e Black com Doom e principalmente com o Gothic Rock, ajudando a consolidar o Gothic Metal. Afinal, depois do Type’O Negative, o segundo nome no mundo e que vêm à cabeça de todos é o Moonspell. Fernando Ribeiro é uma personalidade controvertida, mas um gênio e responsável pelas maiores conquistas de seu país depois das caravelas de Cabral. E seu novo disco (motivo da entrevista), Darkness And Hope, tem em suas guitarras, as melhores em muitos anos dentro do Rock. Confira esta lusa entrevista.

RU - O que a banda fez após Butterfly Effect?
Fernando Ribeiro - Por duas vezes estivemos nos Estados Unidos (com Amorphis e In Flames), na Europa (com Kreator e Witchery), festivais, etc. Entretanto, fomos compondo Darkness And Hope, que nos custou horas de trabalho.

RU - Houve um mal-estar quando a banda veio ao Brasil em 98 com algumas declarações preconceituosas com o terceiro mundo, o que houve?

Fernando - Infelizmente já ouvimos falar desse boato e já tive ocasião de o desmentir perante os nossos fãs. Foi tudo um mal-entendido, talvez alguma falha de comunicação a nível linguístico. Não partilho, DE VERDADE, essa maneira político-econômica de ver o Mundo como a totalidade dos portugueses, tenho um grande respeito pela cultura brasileira, sou leitor atento de, por exemplo, de Cruz e Sousa, tive oportunidade de ler muitas traduções brasileiras de obras filosóficas. Mas também absorvemos muita da cultura brasileira telenovelística e irreal, que em nada me agrada. Penso que me perceberam mal quando eu disse, que já tinha visitado muitos países do chamado primeiro mundo e que aí me tinha sentido no terceiro mundo, da forma como nos trataram e receberam, nada mais. Eu nem gosto de usar esses termos. Por isso alerto as pessoas que nada tenho a haver com essas declarações. Foram compreendidas mal.

RU - Na coletiva no dia do show eu estava presente e senti a banda fria. Isso é o jeito de vocês ou algo que aconteceu?

Fernando - Fomos apenas sóbrios, com vontade de esclarecer e informar, penso que é esse o objetivo de uma coletiva. Tínhamos chegado ás 5.00 da manhã e estávamos cansados mas decidimos manter todos os nossos compromissos. Somos pessoas calmas e reservadas, mas também muito calorosas e humanas. Peço perdão se não dei pulos de alegria na coletiva ou tentei bajular os jornalistas, não faz o meu estilo, é falso. Prefiro a normalidade e a simplicidade e colocar o meu calor onde ele é realmente preciso, no palco e com os nossos fãs! (Nota do E: nosso amigo se equivoca, pois ninguém cobra pulos de alegria numa coletiva, mas é estranho os cinco caras da banda não darem um sorriso sequer e ficar o tempo todo carrancudos. Os italianos do Rhapsody – Luca Turilli e Alex Starapoli, leia na entrevista deles – concederam uma coletiva duas horas antes do show no mesmo dia que chegaram e apesar de cansados e ansiosos conversaram na boa, sem fazer tipo. Ou quem sabe os cinco sejam “garoto enxaqueca”...)

RU - Sin/Pecado era mais eletrônico é Gótico, já em Butterfly Effect a banda flertou com o Industrial e com raízes mais pesadas. Por que esta mudança?

Fernando - Tudo tem a ver com o contexto de cada um dos discos. O Sin era mais focado na melodia e elegância dos temas. Necessitávamos de um som mais refinado, com introdução de ambientes que fossem inovadores na altura. O Butterfly era um disco de duros contrastes. Era um disco frio e cortante, daí o flerte com o Industrial e com o peso do Death Metal. Tal serviu para encaixar o CD no seu tema que era o apocalipse, o caos humano, regulado mas descontrolado, fato evidente na textura musical dos temas.

RU - Vocês se consideram pioneiros do estilo já que bandas como Dimmu Borgir e Convenant adotaram essa linha também?

Fernando - Não sei, será talvez uma responsabilidade muito grande e seria um pouco presunçoso da nossa parte. Penso, no entanto, que Moonspell é muito mais uma banda precursora do que seguidora. O Kovenant e o Dimmu praticam um som distinto do nosso.

RU - Vocês ainda são respeitados e influentes na cena portuguesa? Como está a cena em Portugal?

Fernando - É um misto estranho de influência e respeito com um total desrespeito e um ódio absurdo. Por cada banda que nos cita como exemplo haverá duas ou três que de tudo nos acusam em entrevistas. Quanto a mim, embora exista muito talento e força de vontade, a atitude portuguesa não é a melhor, e a visão é, quase sempre, insuficiente. Cito, no entanto, os bons exemplos de Thragedium, The Temple, Aenima, Sarcastic, Slamo, etc. Se tiverem oportunidade de ouvir, aconselho!

RU - O projeto Daemonarch existe?

Fernando - Em mente sim. Todavia Moonspell é a minha prioridade absoluta e aquilo pelo qual eu quero ser reconhecido. Daemonarch é um instinto que de vez em quando liberto.

RU - Vocês tem um público gótico?

Fernando - Existiu na Europa um grande crossover entre o público de Metal e do Neo-gótico, em especial em 96/97. Como fomos uma das bandas mais representativas dessa fusão na altura, muita gente que partiu do gótico tornou-se seguidor de Moonspell. Mas a maior parte do nosso público penso ser gente do Metal e do Rock.

ACOMPANHE TAMBÉM ABAIXO OUTRA ENTREVISTA REALIZADA COM A BANDA, INTRODUTORA DO GOTHIC ROCK/METAL EM SEU PAÍS, PORTUGAL. ESTA OUTRA ENTREVISTA FOI REALIZADA EM 2002 COM O ENTÃO BAIXISTA DA BANDA NA ÉPOCA, SÉRGIO CRESTANA, BRASILEIRO, QUE SAIU ANOS DEPOIS.

Entrevista realizada em 2002 pela revista ROCK UNDERGROUND, na íntegra, e não a versão editada.

A portuguesa Moonspell fica cada vez mais conhecida por aqui. Desde o lançamento do disco Sin/Pecado e sua vinda ao Brasil em 98 seu público não pára de crescer. Depois disso foram mais dois CD´s, The Butterfly Effect e o soberbo Darkness And Hope.. Neste, a banda abandona os experimentalismos de seus dois antecessores e aprofunda-se no Gothic Rock (ver RU #21). Uma aula de música gótica é o que se ouve nele, angariando fãs deste seguimento e ainda a ala menos radical de seu passado Black. Seu baixista, Sérgio Crestana, é brasileiro e esteve em férias no Brasil em janeiro. Aproveitamos para bater um papo e falar as novas da banda e sobre sua pessoa.

RU – Você já tocou em alguma outra banda no Brasil e em Portugal antes de entrar para o Moonspell?
Sérgio Crestana – No Brasil não, eu comecei minha carreira musical lá em Portugal mesmo.

RU – Você enfrenta algum problema em Portugal, como discriminação?
Sérgio Crestana – Não. No começo se falava alguma coisa, pois a banda era portuguesa e é ainda um orgulho de Portugal. Mas aconteceria se eu fosse de qualquer outra nacionalidade. Mas fui bem recebido no país e na banda.

RU – Como Portugal enxerga e consome a música brasileira?
Sérgio Crestana – No Rock são poucas as bandas brasileiras conhecidas por lá, a não ser aquelas conhecidas no mundo todo, como Sepultura, Ratos de Porão, Angra e só. No mercado em geral tem muita música brasileira, como MPB e axé. A nível de Underground sim, inclusive o Fernando Ribeiro antes do Moonspell trocava correspondência com Korzus, Dorsal Atlântica, etc.

RU – Na sua opinião, a cena portuguesa pode ser dividida entre antes de depois do Moonspell?
Sérgio Crestana – Ainda não, mas vai poder se dividir. Porque o Moonspell teve que ser reconhecido fora de Portugal para poder ser reconhecida por lá. Agora conseguimos uma distribuidora grande que trabalha inclusive com o Depeche Mode e agora estamos ficando conhecidos fora do Underground.

RU – Os acontecimentos do ano passado como o 11 de setembro e a febre aftosa, afetaram de alguma forma a banda?
Sérgio Crestana – A febre aftosa não afetou nosso país e quando ela aconteceu não estávamos em turnê, estávamos gravando nosso disco. Quanto ao 11 de setembro, muitas bandas americanas deixaram de tocar na Europa e é até chato falar isso, mas isso deu mais ainda espaço para as bandas européias. Tanto que participamos da Tattoo The Earth (Nota do E: turnê que reuniu entre outras bandas, Cradle Of Filth, Slayer e Biohazard) no lugar do Pantera em três datas, na Holanda, Itália e Suíça.

RU – Como foi esta turnê para vocês?
Sérgio Crestana – Foi produtivo, apesar de na Suíça só ter tocado o Slayer e nós. No geral, o público do Slayer não tem muita a ver com a gente, mas do Cradle Of Filth sim. Eles fizeram um pacote eclético.

RU – O Daemonarch ainda existe?

Sérgio Crestana – Isto é um projeto do Fernando, não sei se ele quer continuar.

RU – Porque no Brasil foi passado que era um projeto do Moonspell como uma volta ás raízes da banda e não só dele.
Sérgio Crestana – É que quando ele fez o projeto precisava de alguns músicos para gravar, então ele chamou a gente pois já nos conhecia.

RU – Pessoalmente adorei o Darkness And Hope, pois é pesado e as guitarras estão na cara.
Sérgio Crestana – É, o Rock está voltando de novo, está na moda. O Darkness And Hope  surgiu depois do The Butterfly Effect em que compomos com auxilio de computador. O DAH surgiu na sala de ensaio tocando, composto por todo mundo como era antes, buscando inspiração nos discos do Moonspell, fazendo uma espécie de releitura.

RU – Como é a relação de vocês com outras bandas de Gothic Metal e com o público delas?
Sérgio Crestana – Nas turnês e festivais temos oportunidade de conhecê-los. Inclusive da mesma editora. Somos amigos do pessoal do Amorphis, The Gathering, Lacuna Coil e tivemos oportunidade de conhecer melhor. O Tristania tocamos num mesmo festival mas não pudemos vê-los.  

RU – Finalizando, o que você acha de Portugal e do Brasil na Copa do Mundo?
Sérgio Crestana – Vou torcer para o Brasil, mas como segunda opção vou torcer para Portugal. Lá essa geração é considerada como a geração de ouro, com o Figo sendo eleito o melhor jogador da Europa e se Portugal chegar mais longe, será melhor para o futebol de lá. E acho que o Brasil vai faturar, pois toda vez que o Brasil vai desacreditado sem respeito acaba ganhando.