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Inquebrável!

Entrevista: Júlio César Bocáter.
Eles estão de volta! Não, eles nunca acabaram, mas voltaram ao seu mágico som dos anos 70, 80 (principalmente) e até o começo dos 90. Agora, eles assumem que são mesmo um trio, Klaus Meine (V), Rudolf Schenker (G) e Mathias Jabs (G), o resto da banda são músicos contratados. E foi com o simpático Mathias que conversamos neste papo telefônico. Pô, eu entrevistei o Scorpions! E justo o Mathias Jabs! Lembrei de imediato de um amigo meu, o Robson, vulgo Espirro, que trabalhou junto comigo há uns 13 anos no banco Cacique! Ele era fã número um de Scorpions e seu guitarrista predileto (ele também tocava guitarra) era o Mathias Jabs! Eu perdi contato com ele de lá pra cá, mas se um dia ele vier a ler esta edição e esta entrevista, esta é em sua homenagem, Espirro!

RU – O Scorpions já tocou duas vezes no Brasil, em dois festivais. Em 85 no Rock In Rio I e no Skol Rock de 97. Embora vocês tenham sido atração principal nos dois eventos, vocês nunca fizeram uma turnê como Headliners aqui, onde poderiam fazer shows maiores. Por que?
Matthias Jabs – Porque nunca houve oportunidade. Se pudéssemos, tocaríamos em todos os países em todas as turnês. Mas nos sentimos gratos por ter tocado na primeira edição em um festival como o Rock In Rio, um dos maiores do mundo!

RU – Que acharam do Brasil?
Matthias Jabs – Gostamos muito! Claro que em shows assim, não temos muito tempo para conhecer o seu país, que é enorme e lindo. Mas temos boas recordações. No Rock In Rio (em 85) estávamos no auge de nossa forma e sucesso e tocamos com bandas que também estavam no seu auge, como Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Queen, Whitesnake, AC/DC e nós! Não me lembro de outro festival que tenha reunido um time desses, tirando estes festivais beneficentes ou tributos. Na segunda vez, estivemos com Bruce Dickinson, Ronnie James Dio e Jason Bonhan e foi ótimo também!

RU – Embora você não seja membro original da banda, é o guitarrista que está a mais tempo na banda, depois de Rudolf, o fundador, claro!. Como você se sente nesta situação?
Matthias Jabs – Me sinto bem. Nunca me senti pressionado, mesmo quando entrei na banda substituindo algum outro guitarrista. E como você mesmo disse, sou o “outro” guitarrista que está a mais tempo na banda, além de Rudolf, claro. Então tenho total liberdade e há muito que o Scorpions tem a minha cada também.

RU – Vocês tem feito seus últimos discos em formatos distintos, como ao vivo “normal”, acústico e sinfônico. Como se deu essa idéia de se fazer estes formatos diferentes todos em uma mesma época?
Matthias Jabs – Foi uma oportunidade que tivemos e que deu certo. Nós somos músicos acima de tudo, e como músicos, temos necessidade de experimentar formatos diferentes e realizar sonhos individuais ou de banda. O Acoustica, por exemplo. Fomos convidados a fazer o Acústico MTV no começo dos anos 90, seríamos uma das primeiras bandas a faze-lo. Mas na época estávamos muito ocupados e não pudemos fazer, estávamos lançando um disco atrás do outro, seguidas de turnês uma atrás da outra e etc. E quisemos fazer agora, e da nossa maneira, sem o padrão MTV!

RU – Desde 99, com Eye II Eye, que vocês não lançavam um disco de estúdio. Porque “Big Bands” como Scorpions, Metallica, AC/DC e Aerosmith demoram em média cinco anos para lançar um disco ultimamente?
Matthias Jabs – Primeiro, por não estarmos mais com nossos 18 anos e faz tempo isso! (risos) É interessante você perguntar isso, pois não tinha reparado nisso mesmo, em todas estas bandas que você falou! Eu posso falar por nós. Além de não termos mais o mesmo pique de quando tínhamos 18 anos, hoje é claro que estamos numa situação mais confortável. Então, não temos mais a obrigação de fazer um disco ou sair em turnê. Se ainda gravamos discos e tocamos ao vivo é simplesmente porque gostamos! Além do que, como músicos, amadurecemos e melhoramos com o passar do tempo e passamos a ser mais exigentes quanto a nós mesmos, então, demoramos mais em estúdio, compondo, gravando, produzindo e mixando. Além disso, como somos uma banda bem maior do que éramos no começo de carreira, fazemos shows em lugares mais distantes. Na média, fazemos bem menos shows, mas sempre em lugares mais distantes, onde gastamos mais tempo com viagens de ida e volta e, claro, procurando conhecer estes lugares, saindo do eixo América (do Norte) e Europa. E por fim, antes da cobrança do público, de gravadoras e de empresários, a maior cobrança é a de nós mesmos, então gastamos o tempo necessário que for para lançar um bom disco. Temos um nome e não podemos fazer uma coisa sem qualidade. Ah, e todos nós temos família, mulher, filhos e negócios para cuidar. É difícil conseguir tempo para tudo. (risos)

RU – Apesar desta qualidade que vocês falam, os seus últimos discos de estúdio, Pure Instinct (96) e Eye II Eye (99) não agradaram nem o público e nem a crítica. Eu pessoalmente, não gostei de nenhum dos dois, onde a banda saiu muito de seu estilo, experimentando elementos eletrônicos e sonoridades modernas, principalmente no Eye II Eye. Por que vocês fizeram estes dois discos desta maneira, vocês não imaginavam que o resultado não seria bom?
Matthias Jabs – Bem, esta é a sua opinião e eu a respeito! Realmente, a maioria não gostou destes dois discos, mas sempre fazemos um álbum para nos agradar em primeiro lugar, por isso fizemos do jeito que eles são. Você deve saber que, como músicos, não podemos nos limitar a um estilo de música somente, e temos necessidade de experimentar coisas novas. As músicas que escutamos hoje não são as mesmas que escutávamos nos anos 80, por exemplo. E você deve saber que a música eletrônica é muito forte na Alemanha e tivemos alguma influência disso em Eye II Eye. São apenas experimentos, assim como quisemos experimentar os formatos acústico e sinfônico.

RU – Mas vocês estão de volta ao bom e velho Hard’n Heavy ou Heavy Rock, ou ainda “Rock Pauleira” como se falava no Brasil nos anos 80, em Unbreakable (explico para ele o que é isso e ele faz questão de saber a pronúncia)! Como foi essa volta às raízes?
Matthias Jabs – Foi uma coisa espontânea e estamos felizes! Foi graças a termos feito Pure Instinct, Eye II Eye, Acoustica e Moment Of Glory (ao vivo com orquestra) que pudemos voltar aos tempos de Blackout em Unbreakable! Não foi nada premeditado e nem para vender mais, apenas aconteceu de uma forma natural! Creio que explorando atmosferas diferentes das músicas antigas em formato acústico e sinfônico, nos motivou a escreve músicas na moda antiga!

RU – O Scorpions sempre foi a maior banda alemã, dentro e fora da Alemanha. Hoje, temos desde o Ramstein até bandas como Blind Guardian e Helloween, que são bem populares. Hoje, quem é a maior banda da Alemanha, dentro e fora do país!
Matthias Jabs – O Scorpions! Estas bandas que você citou, realmente cresceram muito, mas ainda (o Scorpions) somos a maior banda da país.

RU – Apenas para confirmar, hoje o Scorpions é apenas você, Klaus e Rudolf?
Matthias Jabs – Sim! Hoje somos nós três. Antes que você pergunte porquê, (risos) já adianto. Nós três estamos juntos a mais de 20 anos, e você deve saber quantas mudanças de formação o Scorpions sofreu desde que começou. Então, quando ficamos apenas nós três, decidimos que ninguém mais entraria na banda, pois isso poderia mexer com nossa química e com nossa estabilidade. Preferimos trabalhar com músicos contratados em estúdio e ao vivo, que é mais tranqüilo. Eles fazem o trabalho deles dando o máximo de si e todos ficam satisfeitos, sem confusão. Eu, Klaus e Rudolf já criamos uma química, somos uma família. Quando você está em uma banda grande e que está a décadas na estrada, você continua na banda se for amigo dos outros componentes, se você gostar deles, senão, você não agüenta estúdio e turnês. É só ver bandas como o Deep Purple, os problemas que eles tiveram ao longo dos anos, por não se darem bem. Agora, que eles estão em harmonia uns com os outros, as coisas aconteceram bem melhor para eles.

RU – Por falar nisso, muitas das “Big Bands” não tem baixista, quando o baixista sai, quase nunca é substituído. No Bon Jovi e no Rolling Stones, quando seus respectivos baixistas saíram, as bandas não colocaram ninguém no lugar. No Metallica, a única mudança deles em décadas foi com o baixista. Quando Cliff Burton morreu, entrou Jason Newsted em seu lugar, que novamente saiu dizendo que nunca foi um membro efetivo da banda, e seu substituto, Robert Trujillo, não me passa segurança que ficará por mais uma década na banda, visto que ele mesmo já tocou em várias bandas antes do Metallica. Além disso, bandas que mudam constantemente de formação, como Dio, Whitesnake e Malmsteen, quase sempre a posição de baixista é a que mais muda. Você saberia explicar o porquê disto? Pois, muitos músicos dizem que baterista é “louco”, e baixista então, é “xarope”? (risos)
Matthias Jabs – Outra curiosidade que não tinha prestado atenção! (risos) Você é um bom jornalista, você está no ramo certo, você presta muita atenção, é muito informado mesmo! (risos) (Nota do E: pô, entrevistar o Mathias Jab já foi foda, agora receber um elogio desses do cara, é demais! Morra de inveja Espirro! Brincadeira, claro... risos). Também não sei te responder, esta seria uma boa pergunta para nosso baterista, visto que os dois é que tem que se dar bem, mas isso caso tivéssemos baterista também, já que é contratado também. Mas é difícil encontrar grandes baixistas e grandes bateristas, e os que têm, acabam tocando em várias bandas, como você citou. São duas profissões muito valorizadas no meio, mesmo no caso da gente, contratando músicos de estúdio e para tocar ao vivo. Apesar dos vocalistas e dos guitarristas aparecerem mais, os baixistas e os bateristas acabam sendo mais valorizados.

RU – Voltando ao fato de vocês serem um trio oficialmente, percebi no promo enviado pela gravadora (na verdade, um CDR com todas as músicas de Unbreakable, para que pudesse ser feita a entrevista e as faixas têm apenas 2 minutos de duração, para evitar a pirataria – depois, quando o disco saiu, pouco antes da revista ir para a gráfica, recebemos o CD completo) que quase todas as músicas foram compostas apenas por Rudolf Schenker e quase todas as letras foram feitas apenas também por Klaus Meine. Você só participa na letra de Deep And Dark, junto com Klaus. Você tem menos participação neste trio, junto com Klaus e Rudolf?
Matthias Jabs – Absolutamente, claro que não! No resultado final, todos têm a mesma participação e importância. Rudolf geralmente vêm com as músicas, Klaus com as letras e no final, todos sentam juntos e terminam as músicas, colocando suas respectivas partes. Todos os três têm a mesma importância na relação da banda. O que ocorre é que, quando entrei na banda, eles já estavam e já trabalhavam assim e desta forma eles trabalham há três décadas. E funcionam perfeitamente! Eles formam aquelas duplas compositoras perfeitas, como Mick Jagger e Keith Richards dos Stones, ou Joe Perry e Steven Taylor do Aerosmith. E isto é trabalhar como um time, se um setor vai indo bem nem tem porque mexer!

RU – A banda fará vários festivais no verão europeu, sendo Headliner de todos, e em alguns ao lado do Judas Priest, que voltou com Rob Halford com tudo também! Qual sua expectativa para a turnê de Unbreakable e tem algo marcado para tocar no Brasil?
Matthias Jabs – Estamos ansiosos para estes festivais e shows desta turnê, e realmente a volta do Judas Priest foi um grande acontecimento para a música pesada. Quanto a tocar no Brasil, queremos muito poder tocar aí, mas ainda não temos nada certo.

RU – Para finalizar, outro fato histórico da banda. A balada Still Loving You é a balada Heavy Metal mais conhecida no mundo! Na época, alguns radicais criticaram a banda por isto, já que não era comum, nem no Scorpions e nem no Heavy Metal, baladas românticas como esta. Depois dela, as baladas viraram comuns no Heavy como um todo e no Scorpions, passou a ser uma tradição. Você acha que de alguma forma vocês inovaram com isso?
Matthias Jabs – Acho que sim, pois no Rock’n Roll e ainda mais no Rock pesado, há várias regras e dogmas. É engraçado, pois quando o Rock surgiu nos anos 50, seu intuito era de quebrar todos os dogmas, leis e regras e depois, ele se tornou o estilo com mais dogmas, leis e regras de toda a música! Desde a roupa, visual, cabelo e determinados elementos musicais são obrigatórios em uns estilos e proibidos em outros! Como sempre fizemos o que quisemos, nunca demos bola para o que a crítica ou parte do público vai achar. E atingimos um ponto em que temos total liberdade para fazer o que quisermos sem prejudicar nossa reputação! De certa forma, as pessoas esperam esse comportamento da gente e as baladas se tornaram uma das marcas registradas do Scorpions, embora em Unbreakable elas são minoria. É só “Rock Pauleira”, como você me ensinou a falar! (risos)

SCORPIONS Unbreakable – BMG – nac. O melhor disco do Scorpions desde Crazy World. Klaus Meine está cantando cada vez melhor, Rudolf não se esqueceu de compor temas pegajosos e Matthias Jabs está tocando cada vez mais, com mais técnica e mais feeling! New Generation abre com um pesado e moderno, seguida de Love ’Em Or Leave ‘Em, que remete aos bons tempos de Love At First Sting, com refrão pegajoso típico anos 80. Deep And Dark é bem comercial, típica da banda, com uma levada mais atmosférica e refrão marcante também, única composição de Matthias no CD. Boderline, apesar de ter uma sonoridade moderna, lembra muito o Hard canastrão dos anos 80, com um grande solo de Matthias, enquanto Blood Too Hot é um petardo, candidata a entrar no set list da banda e não sair nunca mais! Klaus mostra sua voz gostosa nas estrofes e o refrão vigoroso e pegajoso é pesado e os solos são outro show à parte! Maybe I Maybe You já é a balada, mas fraquinha, de longe lembra Wind Of Change ou Still Loving You. Someday Is Now é um bom Hard e My City My Town (não presente do primeiro promo enviado) em uma levada swingada, como tudo que a banda faz com a palavra “city” e é um bom momento também, com outro grande refrão! Aliás, me recordo de poucos discos com refrãos tão poderosos como Unbreakable! Through My Eyes é outra balada, mas fraca também, enquanto Can You Feel It lembra suas canções dos anos 70 assim como This Time (também não presente no primeiro promo), que tem uma guitarra mais psicodélica, com as levadas lembrando um pouco a frieza e o lado épico de Judgement Day do Whitesnake, com o refrão virando o Scorpions tradicional se sempre. She Said encerra, outra balada, a melhor das três. Como bônus para o Brasil, Remember The Good Times, clássica! Enfim, um disco que resgata os grandes momentos da banda! A volta aos anos 80! JCB – 9,0