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O Décimo Terceiro Andar Existe!

Entrevista: Júlio César Bocáter. Fotos: divulgação.

Morten Veland é um dos ícones no que chamamos de Gothic Metal, Symphonic Metal, Gothic Doom, Gothic Black, vocais à bela e a fera (urros contrastando com vocais femininos angelicais e/ ou líricos). Sim, seu início com o Tristania em seus dois primeiros discos, Widow’s Weed e Beyond The Veil foi arrebatador, maravilhoso e eterno, criando um novo estilo e fazendo algo único. Ainda que outras bandas tenham feito isso antes, como Therion e Theatre Of Tragedy, a forma Morten Veland de fazer foi única e pessoal. Por brigas até hoje mal explicadas, Morten deixou o Tristania, que depois disso virou um lixo, e fundou o Sirenia. Seu disco de estréia, At Sixes and Sevens de 2002, pode ser considerado o que seria o terceiro disco do Tristania, caso Morten não tivesse saído. Depois disso vieram dois discos considerados apenas “bons” An Elixir For Existence (2004) e Nine Destinies And A Downfall (2007), além do regular o EP Sirenian Shores (2005). Sem dúvida, o disco novo, The 13th Floor, já é no mínimo o segundo melhor disco do Sirenia e um dos quatro melhores trabalhos da carreira de Morten. Ele nos ligou concedendo esta entrevista exclusiva, tirando aquela impressão de que todos têm dele de ser uma pessoa arrogante. Aliás, já é a segunda entrevista que faço com ele e se mostrou, mais uma vez, simpático, solicito, bem-humorado e humilde, se desculpando por míseros 10 minutos de atraso na ligação, sendo que a nossa entrevista foi o último horário de uma dúzia que ele fez no mesmo dia. Confira!

RU – Primeiro, fale do disco novo The 13th Floor, e todo o processo de gravação, composição e gravação.
Morten – Bom, o processo de composição praticamente foi o mesmo, pois eu componho tudo e depois, os outros elementos da banda entram e colocam seus instrumentos. Eu estava num processo muito inspirador quando fiz The 13th Floor e foi tudo muito fácil. Foram quase dois anos de trabalho, que até demoraram um pouco pela troca de vocalista. A diferença é que dessa vez eu mesmo produzi o disco, uma experiência nova. Quer dizer, relativamente nova, já que antes eu co-produzi todos os discos anteriores, mas agora assumi tudo sozinho e toda a responsabilidade pelo resultado do disco é meu.

RU – Parabéns pelo resultado, pois The 13th Floor é o disco mais bem produzido da sua carreira! Ele é bem límpido e cristalina, pode-se ouvir todos os instrumentos claramente e de forma equalizada, porém contém o peso e a sujeira como deve ser um disco de Rock e de Metal!
Morten – Muito obrigado, para uma estréia nisso, as pessoas têm gostado do resultado.

RU – Falando nisso, acho este ser um diferencial entre o Sirenia e a maioria das bandas de Gothic Metal ou com vocais femininos da atualidade. Estas bandas, que em sua maioria são mais Progressivas do que Góticas, apenas contém vocais femininos e algumas passagens mais sinfônicas, acabam soando perfeitas e limpas demais, mas sem alma. Este seria o diferencial do Sirenia e de tudo o que você fez no Tristania?
Morten – Sim, eu componho, toco e canto com sentimento e com feeling, isso é o mais importante pra mim. A parte técnica e virtuosa fica em segundo plano, que também é importante, para deixar a música bem gravada e bem tocada, mas é a embalagem, o conteúdo é o sentimento que me move para fazer música. Minha música tem contextos místicos e atmosferas melancólicas.

RU – Muitas bandas não gostam deste termo Gothic Metal, mas todos os jornalistas e gravadoras usam este rótulo. Você se incomoda em ter sua banda rotulada como Gothic Metal? O que você acha desse termo?
Morten – Bem, eu não me importo, já que gosto de música chamada de Gótica e de Metal. Se chamam o Sirenia de Gothic Metal ou Symphonic Metal, não me importo, pois todos os rótulos que são criados por jornalistas correspondem a uma parte de nossa música.

RU – Justamente o que ia dizer. Embora esta “tag” se encaixe comercialmente no que a banda faz, sua música tem vários elementos, como os seus vocais Black, algumas passagens Doom, temas Dark e claro, elementos sinfônicos tudo dentro do Heavy Metal. Pessoas como Christopher Johnsson do Therion, e Tuomas Holopainen do Nightiwsh, também rotulados como Gothic Metal, definem sua música como Symphonic Metal.
Morten – Acho que desta forma, deixa a pessoa ter uma idéia melhor da música.

RU – Bom, na última vez que o entrevistei, você tinha acabado de lançar Nine Destinies And A Downfall em 2007 e tinha como vocalista Monika Pedersen da Dinamarca. Era o seu terceiro disco com uma terceira vocalista diferente de um país diferente das anteriores. Eu brinquei e perguntei se no seu quarto disco, se teria uma quarta vocalista diferente e se seria de um outro país sem ser das vocalistas anteriores Fabienne Gondamin – França, Henriette Bordvik – Noruega e Monika Pedersen – Dinamarca. Parece que minha profecia se realizou... (risos) Você está com mais uma vocalista nova, e agora, vem da Espanha!
Morten – (risos) Você não sabe a dor de cabeça que dá mudar de vocalista a cada disco. Se dependesse de mim, não mudaria nunca, mas isso aconteceu todas as vezes. Aí ter que procurar uma nova vocalista, achar a melhor, ensaiar as músicas antigas, ensaiar as novas e de repente, ter que começar tudo do zero. Falando sobre a nova vocalista, Ailyn, ela é competente e profissional e espero ficar com ela por muitos e muitos anos e muitos e muitos discos daqui pra frente.

RU – Por que todas elas saíram?
Morten – Bem, seriam longas histórias... Mas cada uma teve em especial um motivo. Fabienne Gondamin gravou At Sixes and Sevens (2002) e foi mais uma musicista convidada de estúdio, já que o disco foi gravado na França e contamos com músicos de apoio franceses e ela nos foi indicada pelo pessoal de lá, por ser uma boa cantora local. Coincidentemente Henriette Bordvik, que gravou An Elixir For Existence (2004) e o EP Sirenian Shores (2005) e depois Monika Pedersen que cantou em Nine Destinies And A Downfall (2007) saíram por diferenças musicais, dizendo que queria continuar na música tocando outro estilo. As duas saíram pelo mesmo motivo.

RU – Elas me pareciam mais voltadas para o Pop.
Morten – Sim, é isso que Monika quer fazer. Quanto a Henriette Bordvik já não sei dizer.

RU – Mas se elas alegaram que têm muitas diferenças musicais e não sentiam que era a banda certa para elas, por que elas entraram? Ela sabia o que a banda tocava, não sabia?
Morten – Claro que sim, isso que me deixa chateado.

RU – Bom, na minha opinião, pessoas que nem ela, os fãs de Sirenia e seus fãs de Tristania deveriam boicotá-las, pois fica claro que elas entraram na banda para ganhar um nome e depois sair e colocar a eterna tag “ex-vocalista do Sinenia, que é a banda do ex-Tristania, um ícone do estilo” e arrastar seus fãs para o trabalho delas.
Morten – Se você está falando isso... (risos)

RU – Dei uma pesquisada em notas da época de suas saídas e também do que estariam fazendo agora e me surpreendi. Monika, em nota disse para seus fãs ficarem atentos que ela estará fazendo música para eles, para eles aguardarem, ou seja, nitidamente usou a banda para se auto-promover. Já Henriette, montaram um Mypsace para ela onde a “fã” disse que o Sirenia não era nada sem ela, bem no cabeçalho do Myspace...
Morten – Bem, cada um tem o direito de achar o que quiser e falar o que quiser.

RU – Sim, mas fica no ar uma coisa meio planejada nisso. Como o Sirenia não é nada sem Henriette? Se ela entrou quando a banda já existia? Se o Sirenia era uma continuação sua do que você queria fazer com o Tristania? E se os fãs de Sirenia são fãs 99% de Morten Veland? Se para os fãs de Sirenia e Morten, não importa quem seja a vocalista, mas sim, as composições, guitarra e voz de Morten?
Morten – Fico lisonjeado com suas palavras. Mas realmente estas situações nos aborrecem, e deixamos claro para Ailyn se ela queria seguir carreira com a banda ou apenas gravar um disco e se promover. Mas ela parece mais madura até nesse sentido, além de não querer ficar se exibindo nas fotos. Ela mesma quer ser reconhecida pela música dela.

RU – Desculpe, mas todo jornalista musical como eu, o é por ser apaixonado por música e no meu caso, nos estilos que trabalho. E a gente acaba se envolvendo ainda mais com bandas e artistas que gosta. Achei um absurdo o motivo delas terem saído, e o que elas fizeram depois. Dizer que o Sirenia não é nada sem Henriette, que gravou um disco e um EP? É o mesmo que dizer que Black Sabbath sem Tony Martin não é nada! E olha que esta é minha fase preferida do Black Sabbath e ele gravou cinco discos. mas relegar o que foi feito com os vocalistas anteriores não dá.
Morten – Concordo com você, mas você pode ter certeza que os fãs de meu trabalho e do Sirenia vão continuar nos acompanhando e gostando de todos os discos, mesmo que feitos por vocalistas diferentes.

RU – Vocês chegaram a receber material de 500 pessoas para o cargo de vocalista. Não seria mais obvio escolher uma norueguesa?
Morten – Não é fácil achar mulheres na Noruega que queiram cantar esse tipo de música. A cena norueguesa é bem famosa, mas não é tão rica como as pessoas pensam. Destas quinhentas, apenas umas dez eram da Noruega. Escolhemos a pessoa que achamos melhor para cantar. Jamais escolho alguém pela aparência como a maioria das bandas faz hoje em dia. Até pessoas da América do Sul, como Brasil e Argentina enviaram material. Agradecemos, mas para nós, seria impossível, pois a distância é muito longa.

RU – Para nós brasileiros, que temos dificuldade de se locomover dentro de nosso país, por diversos motivos e 99% de nós nunca foi a outro país da América do Sul, parece loucura uma banda da Noruega ter uma vocalista francesa, depois uma norueguesa ok, mas depois uma dinamarquesa e agora uma espanhola. Além disso, grande parte das bandas européias são formadas pro membros de países distintos e que continuam morando em seus países nativos, além de muitas vezes gravarem em outro país, produzirem em outro, a gravadora ser de um terceiro lugar... Mas para vocês parece ser normal. Isso se deve ao fato da União Européia, em que a Europa se tornou um país só, com uma mesma moeda, e com menos impostos e taxas entre as transações, trocas e viagens entre os paises?
Morten – Com certeza! Isso ajudou muito e isso, fez com que a concorrência aumentasse. Antes, se queríamos gravar em um estúdio na Noruega, por exemplo, por questões de custo, só poderíamos pesquisar dentro da Noruega, na melhor das hipóteses em países mais próximos como Suécia e Dinamarca. Agora, com o Euro, podemos pesquisa em qualquer país da Europa. Mesmo os países que não aderiram ao Euro, acabam entrando na concorrência também. Viajar também ficou mais barato, entre os paises. O lado ruim é que, quando temos uma crise como a que estamos tendo agora, todos os países entram nela juntos. Mas tivemos mais facilidades nestes anos todos!

RU – Falando em crise, como você vê a cena musical com essa crise internacional, onde na Europa e EUA é muito mais forte do que em outros lugares, como o nosso. Pois além da crise econômica, a música vem sofrendo com a pirataria e downloads ilegais no mundo todo.
Morten – Olha, isso é muito sério. Os downloads aumentaram muito de 2004 para cá e de lá para cá, as vendas de discos vêm caindo em média 20% a cada ano. Não sabemos onde isso vai parar. Apesar disso, graças a popularização da música, ainda que de forma ilegal, divulgou muito e as pessoas passaram a ir mais em shows, pois conheciam mais bandas e mais músicas. Mas com essa crise internacional, os shows ficaram mais difíceis. Até uns 2 anos atrás, todas as bandas aumentavam o seu público e tocavam em lugares cada vez maiores. Agora, isso vem diminuindo, com cerca de um terço a menos de público. Não falo isso apenas pelo Sirenia, mas todas as bandas e todas as gravadoras sofrem com isso. Temos amizades com muitas bandas de estilos diferentes, países diferentes e gravadoras diferentes e os números são estes mesmos.

RU – E qual a saída para isso tudo?
Morten – Bem, todos querem que essa crise termine o quanto antes e que as pessoas voltem a comprar CDs. Enquanto isso, temos que economizar para se fazer um disco, para que seja viável para as gravadoras continuarem lançando, pois as vendas são bem menores. No meu caso, estou tranqüilo, pois como agora consigo produzir, e tenho meu próprio estúdio, então os custos são infinitamente menores!

RU – Há cerca de 10 anos atrás, todos malharam o Metallica, chamando-os de mercenários por processarem um “pobre adolescente que apenas queria trocar músicas com seus amigos na Internet e que criou o Napster”. Hoje, dou a mão a palmatória e eles tinham razão.
Morten – Com certeza. Muitos músicos na época diziam que não se preocupavam, que eram as gravadoras quem ganhavam dinheiro com os discos, que os discos eram caros e que as bandas só ganhavam com shows e merchandise, e pouco com CDs. Hoje, todos nós, gravadoras e bandas, estamos no mesmo barco.

RU – Falando em gravadoras, como tem sido seu trabalho com a Nuclear Blast, gravadora que você está há dois discos e três anos, em relação à anterior, Napalm.
Morten – Melhor impossível! Apesar da Nuclear Blast ter dezenas de artistas tão famosos quanto nós ou até mais, como Therion, Hammerfall, Dimmu Borgir, In Flames entre tantos, eles nos dão prioridade. Também tem muito mais estrutura e lança discos diretamente em quase todos os países, em vez de apenas licenciar. Mesmo assim, somos gratos por tudo que a napalm fez por nós, desde os tempos do Tristania, graças a eles que ganhamos projeção mundial, mas era hora de mudar e dar um passo além.

RU – Enquanto vocês estavam na Napalm, seus discos saiam aqui por outra gravadora. Desde o Tristania, com o primeiro disco Widow’s Weed eu queria entrevistá-lo, mas não conseguia. Diziam que você não atendia entrevistas por telefone e cheguei a fazer várias pautas por e-mail e nunca tive resposta. Também me alertavam para ter cuidado com as perguntas e quando você já estava no Sirenia, diziam que era proibido tocar na palavra Tristania. Mas desde que os discos saíram n Brasil pela Nuclear Blast, já é a segunda entrevista que consigo com você e novamente, você está sendo simpático e atencioso! Muita gente criou uma imagem sua, por causa disso, que você era um tipo de Boogieman (bicho-papão em inglês)
Morte – (risos e mais risos) Estou sabendo disso agora! Nunca me neguei a falar de meu trabalho e nunca impus condições para ser entrevistado, não sou um Rockstar, ou um Popstar! (risos) Mas que bom que agora, aí no Brasil temos uma gravadora que possa ter uma ligação com a imprensa. Realmente, antes da Nuclear Blast não dava muitas entrevistas, até achava que o Brasil não ligava muito para nossa música, apesar de sempre termos recebido cartas e e-mails de fãs. Antes eu achava que só havia duas ou três revistas. Hoje, as vezes tenho que tirar até dois dias para atender a imprensa brasileira!

RU – Você falou a pouco que sua música era mística. Realmente, sempre achei, desde quando você estava no Tristania. Sou seu fã, no Tristania você fez dois discos que são de minha cabeceira, e que são clássicos, Widow’s Weed e Beyond The Veil. Depois que você saiu, a banda virou um lixo! No Sirenia, o melhor para mim até agora é o primeiro discoAt Sixes And Sevens e coloco The 13th Floor como o segundo melhor! Em todo o seu trabalho tem essa aura misteriosa. Esse lado místico e cabalístico até que o motivou a dar números como títulos de seus discos? At Sixes and Sevens, Nine Destinies And A Downfall e The 13th Floor? A exceção de An Elixir For Existence.
Morten – Para mim, tudo tem que ter sentido, tudo tem que ter ligação, a música, o que sua letra fala e pede, como a música deve soar em determinado trecho da letra, os títulos dos discos, títulos das faixas, as artes gráficas, as capas, tudo tem que ter sentido. Os títulos de meus discos têm um significado místico e esotérico sim, como um título de um filme, mas o fato de todos eles terem números não foi proposital, e sim, porque soam bem, e narram o que o disco quer dizer.

RU – Enfim, quando vocês ticarão no Brasil?
Morten – Eu espero o quanto antes! Não depende apenas da gente, mas dos fãs clamarem por nós e dos promotores se interessarem pela gente! Não vejo a hora de conhecer nossos fãs brasileiros.