Discografia Regada À Sangue!
Júlio César Bocáter
A Warner Music lança no Brasil quase toda a discografia do Slayer em uma paulada só! A exceção de Show No Mercy (83), Haunting The Chapel (84), Hell Waits (85) e Live Undead (85), que saíram pela Metal Blade, todos os outros discos de estúdio que saíram por majors (exceto coletâneas e ao vivos), foram relançados pela Warner e estão disponíveis no mercado brasileiro agora, aproveitando o sucesso do recente Christ Illusion e da passagem da banda no Brasil neste ano. Em Reign In Blood (86) a banda deixava aquele jeito quase Black Metal (da época) de fazer Metal Extremo e caía de vez no Thrash Metal. Para muitos “puristas” e radicais de plantão, este foi o último disco do Slayer, visto que, a pequena mudança musical dali em diante “mancharia” a reputação do grupo. Quanta besteira... Angel Of Death abre o disco, numa das faixas mais polêmicas de toda a história do Metal, onde a banda foi acusada de nazismo pela sua letra. Quanta besteira parte 2... Completam o track list Piece By Piece, Necrophobic, Altar Of Sacrifice, Jesus Saves, Criminally Insane, Reborn, Epidemic, Postmortem, Raining BloodeAggressive Perfector. South Of Heaven (88) foi o primeiro disco criticado da banda. Na época, pois hoje, os que os criticaram, o idolatram. South Of Heaven marcava a mudança da sonoridade da banda, fazendo um som mais lento, cadenciado, mas não menos pesado. A banda também abandonava a temática satanista e passava a falar de guerra e protestar contra a sociedade e principalmente contra as religiões. Track list: South Of Heaven, Silent Scream, Live Undead, Behind The Crooked Cross, Mandatory Suicide, Ghosts Of War, Read Between The Lines, Cleanse The Soul, Dissident Agressore Spill The Blood. Na sequência vem Seasons In The Abyss (90), que foi mais criticado ainda, uma espécie de Black Album do Metallica para o Slayer. Também hoje, aqueles que condenavam esse disco, o adoram, pois era o último disco com Dave Lombardo na banda. O som ainda Thrash, era mais lento do que South Of Heaven. Além disso, a banda começou a tocar nas rádios, MTV (pois passou a produzir videoclipes, uma heresia para os radicais oitentistas), as músicas eram realmente um pouco mais acessíveis (acessíveis sim, comerciais nunca!) e a produção, límpida e cristalina deu uma nova dimensão à música da banda, sendo por isso criticado pelos radicais. Inclusive, graças ao sucesso deste disco, que surgiu a famosa turnê Clash Of Titans, juntamente com Megadeth, Anthrax, Testament, Suicidal Tendencies e Alice In Chains. Que porradaria! Track list: War Ensemble, Blood Red, Spirit In Black, Expendable Youth, Dead Skin Mask, Hallowed Point, Skeletons Of Society, Temptation, Born Of FireeSeasons In The Abyss. Daí em diante começava o longo hiato de lançamentos entre um disco e outro, variando a cada três ou quatro anos. Divine Intervation (94) trazia uma banda que não acrescentava muito mais a cena, e se perdia, nem fazendo o som mais acessível do Seasons In The Abyss, nem o antigo de Reign In Blood. Ainda assim, era Slayer, mas sem Lombardo. As Influências e vontade de tocar Punk Rock eram latentes já em Divine Intervation, fato que seria consumado no disco seguinte. Track list: Killing Fields, Sex, Murder, Art, Fictional Reality, Dittohead, Divine Intervention, Circle Of Beliefs, SS-3, Serenity In Murder, 213eMind Control.Já Undisputed Attitude (96) era o aguardado disco de covers de bandas Punk e Hardcore, uma espécie de resposta à onda Poppy Punk americana, inaugurada por Green Day e Offspring, onde o Slayer queria mostrar para a molecada, com sua atitude indisputada o que era Hardcore de fato. Track list: Disintegration / Free Money, Verbal Abuse / Leeches, Abolish Government / Superficial Love, Can't Stand You, Ddamm, Gulity Of Being White, I Hate You, Filler / Don't Want To Hear It, Spiritual Law, Mr. Freeze, Violent Pacification, Richard Hung Himself, I'm Gonna Be Your God e Gemini, a única não-cover deste disco.
Diabolus In Musica (98) era outro álbum polêmico. Seu título significa um tipo de escala musical dissonante, digamos assim (pois existem várias explicações e histórias sobre sua origem, sendo proibida pela Igreja na Idade Média por ser considerada uma escala diabólica). A polêmica não parava aí, pois até hoje ninguém entendeu o que é aquela figura macabra e sombria, muito tosca para uma capa de disco, ainda mais de uma banda como o Slayer. E em Diabolus In Musica o Slayer fazia sua mudança mais radical musicalmente falando, pois o mundo passava pela onda New Metal e o Slayer não chegou a beliscar o estilo, mas colocou afinações mais baixas e graves em seus instrumentos (também inspirados pela escala musical, que era dissonante e mais grave do que o tradicional). Opiniões divididas a parte, o track list deste controvertido disco é: Bitter Peace, Death's Head, Stain Of Mind, Overt Enemy, Perversions Of Pain, Love To Hate, Desire, In The Name Of God, Scrum, Screaming From The Sky, Wicked, Point e Unguarded Instinct. Encerando, God Hate Us All (01), com sua capa forte com uma bíblia sangrando, prometia uma volta aos velhos tempos, mas o som moderno não agradou a todos. Longe do modernismo de Diabolus In Musica, mas longe dos Reign Blood ou South Of Heaven de outrora, a banda buscou outro meio termo, não muito bem sucedido. Mesmo assim, disco imprescindível se você é ou quer ser fã da banda, com as faixas: Darkness Of Christ, Disciple, God Send Death, New Faith, Cast Down, Threshold, Exile, Seven Faces, Bloodline, Deviance, War Zone, Here Comes The Pain, Payback, Scarstruck e Addict. Na sequência, Christ Illusion na íntegra abaixo, visto que é o lançamento recente da banda, o disco que marca a volta de Dave Lombardo e o melhor trabalho da banda desde a sua saída, em Seasons In The Abyss.
Christ Illusion
Warner – nac.
Bom, a expectativa era absurda para este CD, que marca a volta de Dave Lombardo na bateria. Sem dúvida, o melhor disco da banda desde Seasons In The Abyss, o último com Lombardo antes de ser chutado por Araya e companhia. Além disso, a semelhança musical com Seasons In The Abyss é nítida. Longe do Black do começo de carreira, longe das modernices de Diabolus In Musica e God Hate Us All, longe também da magnitude de South Of Heaven e Reign In Blood, a banda atinge seu meio termo, confortável e bom pra cacete! Flesh Storm abre o CD, causando o mesmo impacto quando War Ensemble abria Seasons In The Abyss. Em seguida, Catalyst é mais moderna, atual, cadenciada, enquanto Skeleton Christ (que coisa profana... e legal!) é o Slayer antigo, mas sempre com uma produção moderna, afinação baixa e adaptada à década 00. O solo e os riffs nefastos depois do refrão são de fazer ressuscitar até Jesus Cristo, literalmente! Eyes Of The Insane é outra “moderna”, mas com os vocais insanos e desgraçados de Tom Araya. A desgraceira continua relembrando a fase Thrash de South of Heaven e Reign In Blood com Jihad, bem como Conspiracy. Cara, essa é de levantar rodas de pogo e mosh no meio do show! As guitarras insanas de Kerry King e Jeff Hanneman mostram que a maior dupla de Thashy guitars do mundo ainda continua a compor momentos de demência em forma de riffs, solos e acordes nas seis cordas! Já Catatonic e Black Serenade, a banda relembra a meio a fase Diabolus In Musica e God Hate Us All. A faixa Cult tem mais groove, e o começo mais lento e cadenciado, meio diferentão do estilo habitue do Slayer, e por isso mesmo mortífera, descambando para a porradaria logo em seguida. E que porradaria! Encerrando, Supremist. E o que falar de Lombardo na bateria? Que honra poder entrevistá-lo (veja entrevista em nosso site), poder vê-lo ao vivo e poder ouvir de novo um CD do Slayer com ele na baqueta! Com certeza, não fosse ele, Christ Illusion não seria tão sensacional quanto o é! JCB – 9,0
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