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Revelado o segredo das runas!


Entrevista:
Júlio César Bocáter.
Foto:
divulgação.

Pouco antes da banda sueca Therion desembarcar para um bem sucedido show no Brasil, conversamos com o guitarrista e vocalista, além de líder da banda, Christoffer Johnsson. Confira essa exclusiva.

Fale nos um pouco sobre oconceito do novo álbum, Secrets of the Runes.

Christoffer Johnsson - É uma coisa simples, que envolve a arte que está na capa. As runas, cada uma significa um mundo, são 9 mundos, que estão dispostos dentro de uma “árvore”, o Yggdrasil. Temos 9 músicas, cada uma sobre um mundo com seus nomes, e temos a música Ginnungagap, que significa o espaço vazio onde o mundo foi criado, e temos o epílogo chamado Secret of the Runes, que é centro de todo o disco, as letras dessa música falam da criação dos 9 mundos.

Como você compara esse álbum com os anteriores, considerando a parte musical e as letras também?
Christoffer Johnsson
- Em se tratando de letras, há uma grande diferença, estamos lidando com algumas coisas nórdicas, coisa que nunca fizemos antes; temos também palavras em alemão em algumas músicas. Na parte musical não há muita diferença dos últimos álbuns, mas mudamos a produção, está mais pesado, as guitarras estão com outros timbres, há mais distorção no baixo, se adequando bem ao tema do álbum. Temos também um pouco de folk music, desenvolvemos uma harmonia mais complicada.

Até que ponto elementos como magia e ocultismo estão relacionados com a música do Therion?
Christoffer Johnsson - Esses elementos inspiram as letras, às nossas músicas. Estão altamente relacionados.

A banda sempre foi considerada black metal sinfônico...
Christoffer Johnsson -
(risos) Não, black metal não! A música black metal é bem diferente, bem rápida, e o vocal é agressivo. Não temos nenhum cantor black metal na banda. Quem diz que o Therion é uma banda de black metal, não sabe direito que estilo é esse. Venom e Bathory são bandas de black metal. Não tenho nada contra esse estilo, mas simplesmente não tem nada a ver com o que nós fazemos.

Então, como você definiria o som da banda?
Christoffer Johnsson - Não há uma palavra exata para definir claramente o som que o Therion faz. Trabalhamos com um  pouco de metal dos anos 80, metal dos anos 90, temos elementos de hard rock setentista, rock progressivo. Temos ópera, é tudo meio misturado. Hum...pode- se chamar de ópera metal. Eu não gosto muito dessas coisas de rótulos, essa história de “blá blá blá metal”.

O Therion já cantou em várias línguas, alemão, inglês, norueguês, e agora em sueco. Por que a mudança e o uso de tantas línguas?
Christoffer Johnsson - Algumas línguas às vezes estão relacionadas especificamente ao tema do álbum e das musicas. Quando lidamos com elementos cabalísticos, usamos hebraico e até egípcio arcaico. Agora, estamos trabalhando em cima de coisas nórdicas, e sueco é a linguagem mais importante da Escandinávia. O Alemão foi usado por causa da mitologia deles, tinha tudo a ver com o que estávamos fazendo.

Sabemos que o cd do Therion tem um coro com muitos músicos, e o uso de inúmeros instrumentos. Como serão as apresentações ao vivo por aqui?
Christoffer Johnsson - Não dá para trazer uma orquestra inteira, porque é tudo muito caro. Nós trazemos alguns cantores do coro com a gente, e a orquestra vem de uma máquina, um sampler, um tipo de um playback. Na banda, um músico toca mais de instrumento no disco, se formos reproduzir tudo isso idêntico ao vivo, nós iríamos usar uns 60 músicos e o preço do ingresso iria dobrar. Quase nenhuma banda poderia fazer isso, a não ser o Metallica, mas eles são milionários. E nossos ingressos devem ter um preço acessível para que todos possam assistir aos shows. É um trabalho pioneiro também, pois é a primeira vez que estamos indo para a America do Sul, quem sabe mais para frente, possamos pedir uma cota de patrocínio da gravadora maior, e conseguir trazer mais recursos assim como os shows da Europa.

E as músicas do show? Muita coisa nova, ou algumas dos primeiros discos também?
Christoffer Johnsson - Nós vamos tocar pelo menos uma música de cada álbum. Temos 10 discos, não dá para se fixar só no novo. De Secret of the Runes vamos tocar 4 músicas. Especialmente aí na América do Sul, os fãs gostam muito de black metal e metal pesado; aqui na Europa não tocamos nossas músicas velhas, ninguém quer ouvi-las. Tentamos mas não funcionou. Já na América, como no Brasil, as pessoas gostam de todos nossos álbuns. Faz tanto tempo que não tocamos essas músicas, algumas já fazem 8 anos, vai ser divertido tocá-las.

Há alguma banda na atualidade que desperta seu interesse?
Christoffer Johnsson - Eu escuto Accept, Iron Maiden, bandas dos anos 80 que eu cresci ouvindo. Nesse disco não há nenhuma influencia  particular; apesar de ter muito metal nele. Não há nenhuma banda em especial que me influencia.

Um novo álbum do Therion sempre acaba superando o anterior. Qual é a fórmula para esse sucesso?
Christoffer Johnsson - Nós temos uma política na banda de lançar sempre um álbum melhor que outro. Para a minha pessoa, temos que ser honestos quando terminamos a gravação e nos dizer “esse álbum é realmente melhor que o outro?”. Se a resposta for “Sim”, então ele está pronto para ser lançado, do contrário, voltamos ao estúdio e fazemos tudo de novo. Tem bandas que fazem muitos discos bons, como o Iron Maiden, que é uma das minhas bandas favoritas. Eles fizeram vários discos legais, mas chegaram num ponto que os discos de tornaram ruins e enfadonhos como o No Prayer for the Dying, acho que eles perderam a inspiração. Eu não quero que isso aconteça com o Therion. Não me importo que o disco leve 10 anos para ser produzido, desde que seja bem feito.

Qual sua opinião sobre a reação dos EUA bombardeando o Afeganistão, que é a guerra de número 56 que os EUA entram, com cada míssil custando 1 milhão de dólares, sendo que o próprio EUA se opôs ao Brasil e aos países africanos para quebra da patente para diversos remédios, inclusive para a AIDS, vitimando milhões de pessoas ao redor do mundo?
Christoffer Johnsson - É horrível tanta gente inocente morrer, como aconteceu em Nova Iorque; mas tem pessoas morrendo no mundo inteiro. Se 10 mil pessoas morressem na África, talvez saísse uma notinha minúscula no jornal “10.000 pessoas negras morreram...”, e as pessoas virariam a página. Mas 10 mil pessoas brancas, americanos, o mundo pára. Se isso acontecesse no Brasil, não seria um estardalhaço tão grande, mas aconteceu nos Estados Unidos, que é um país rico, e aí todo mundo se comove. Eu não consigo suportar isso, me enoja. Se Israel não tivesse nenhum interesse econômico para os Estados Unidos, eles jamais iriam se importar com aquele povo. Isso tudo é muito cínico. Pessoas no Afeganistão podem morrer, isso é horrível. Pessoas no mundo inteiro podem morrer por causa de um orgulho em cima do história que você me contou sobre os medicamentos. Sei lá, não sei bem o que dizer, tudo isso me enoja.

Você acha que a “guerra” afetou a turnê? Muitos artistas andaram cancelando seus shows.
Christoffer Johnsson - Nossa, as pessoas estão com medo de voar! (risos) É mais seguro viajar de avião que de carro, eu não tenho medo, nem depois desses acontecimentos. É ridículo cancelar seus shows na Europa pelo que aconteceu nos Estados Unidos, ainda mais se você não é americano. Bandas lançaram álbuns e agora estão apavoradas pensando que suas turnês foram arruinadas, e eu digo “F***-se, nós vamos fazer a nossa turnê”. É uma coisa horrível, mas esse lance de se opor a um país por causa de medicamentos não provoca a morte de outros tantos??

Como é a cena metal na Suécia? Os suecos costumam dizer que a cena black metal é muito grande e que acabou engolindo os outros movimentos.
Christoffer Johnsson -
Temos muitas bandas aqui, e a cena não é mesmo muito grande. Todo mundo aqui tem banda. Quando você faz um show, metade do público que te assiste também tem uma banda. Desde que começamos nos idos de 90, os problemas aqui na Suécia são os mesmos: as casas de show. Ou são clubes muito pequenos, ou são arenas; não há nada meio termo para bandas de médio porte. É muito difícil achar um lugar legal para tocar, fora a lei de álcool nos clubes, precisa ter 18 anos para comprar bebidas alcoolicas, e  a maioria dos fãs tem menos de 18. Os donos dos bares não querem abrir mão de vender bebidas, porque dá dinheiro. Tocar nos outros países da Europa e tão mais interessante, e fora dela também. Estivemos no Chile em 95, e também tocamos já no México, e os shows foram ótimos.

Tem alguém que é muito grande ai? Algum produtor, banda, empresário?
Christoffer Johnsson
- Eu não faço muita idéia do que rola com as bandas daqui, não associo a cena metal às bandas daqui. Quando venho para casa depois de uma turnê, a última coisa que quero fazer é ir à bares de metal, só quero fugir de tudo isso. Gosto de passar muito tempo sozinho, pensando. Dark Funeral é uma banda grande, conheço algumas outras bandas, mas não tenho idéia de como estão no momento.

Você gostaria de deixar alguma mensagem para os fãs?
Christoffer Johnsson - Nós queríamos há muito tempo vir ao Brasil, uma das questões mais comuns no fórum do Therion era: “Quando o Therion vai vir ao Brasil?”. Estamos bem ansiosos em tocar aí, e esperamos ver um pouco do país também; é uma coisa que odeio, já estive em todos os lugares do mundo e não vi nada de lugar algum. Só vemos as casas de show! (risos). Será uma data muito especial para nós. Conhecemos o som do Angra e do Sepultura, e sabemos que o país é muito grande e que a Amazônia é o pulmão do mundo, além da caipirinha! Agora, queremos ver as paisagens também!